Alstom fecha novos contratos e refuta pagamento de propina
Gazeta Mercantil | 7 de julho de 2008
Mesmo sob suspeita de prática de propina no setor público brasileiro, a Alstom, fornecedora de equipamentos para o setor de energia e transporte, anunciou na sexta-feira o fechamento de contratos com o governo estadual paulista para modernizar o sistema das linhas 1, 2 e 3 do metrô de São Paulo, no valor de R$ 712 milhões (ou €280 milhões).
"Os nossos clientes mantêm total confiança em nós, bem como os nossos parceiros, a julgar pelo contrato que assinamos para a modernização das linhas do metrô", disse o francês Patrick Kron, CEO do grupo desde 2003, ao ser indagado sobre as acusações envolvendo a subsidiária brasileira.
Além do novo contrato, a empresa vai construir uma nova fábrica no País, em Rondônia, para atender especialmente a hidrelétrica Santo Antônio, no rio Madeira, que, conforme acordo firmado com o consórcio vencedor do projeto - liderado pela construtura Odebrecht e Furnas -, utilizará as turbinas desenvolvidas pela companhia.
As denúncias em torno dos negócios da Alstom vieram à tona em maio, após o "Wall Street Journal" publicar matéria relatando que a multinacional estava sendo investigada por autoridades francesas e suíças sobre o pagamento de uma suposta propina de milhões de dólares para ganhar contratos na Ásia e na América Latina.
A denúncia do jornal norte-americano diz que o banqueiro Oskar Holenweger, de Zurique, teria sido o agente do grupo no pagamento dos possíveis subornos para obter contratos entre 1995 a 2003.
"Nós não encontramos nenhum desvio das regras éticas nos contratos brasileiros e nem no caso do metrô de São Paulo, que, por sua vez, abriu seu próprio inquérito interno e, até onde eu sei, não encontraram nenhuma irregularidade", afirmou o executivo.
"Nós fomos condenados sem termos sido julgados, usaram insinuações sem se basear nos fatos e é isso que eu vim denunciar", protestou Kron.
Segundo o executivo, "se algum erro for constatado em algum lugar", a empresa vai "analisar a maneira de reagir".
"Não podemos ser condenados com base em hipóteses", afirmou.
Em São Paulo, as denúncias giram em torno de uma possível propina de US$ 6,8 milhões, valores que teriam sido pagos pela Alstom para ganhar um contrato de US$ 45 milhões para a expansão do metrô de São Paulo, a chamada linha amarela.
"Há várias semanas o nome da Alstom está sendo associado a práticas condenáveis que reprovo e condeno e não correspondem ao comportamento da empresa", enfatizou o presidente.
"Repito: a Alstom não corrompe agente públicos.
Nós temos regras muito específicas para garantir que respeitemos as leis e os regulamentos do Brasil, assim como nos outros 69 países que estamos presentes", salientou.
"Peço simplesmente que nos dêem um tratamento justo e equilibrado.
Sempre que há investigações judiciais nós colaboramos plenamente com a Justiça", desabafou.
Questionado sobre um possível risco de ficar fora de contratos públicos no Brasil diante das investigações, Kron afirmou, categoricamente: "Nada me faz pensar que as acusações que estão sendo feitas contra nós, sem provas, tenham fundamento", disse.
O executivo fez questão de destacar a atuação da empresa no Brasil, que, segundo Kron, está entre os "as cinco ou seis" principais no ranking de importância para os negócios do grupo.
"Estamos no Brasil há mais de 50 anos, contribuindo para o desenvolvimento de um número muito grande de projetos, tanto na área de geração de energia quanto na área de transportes ferroviários".
Auditorias internas
Ainda sobre as investigações, o presidente da companhia se colocou à disposição da Justiça para colaborar com as investigações.
O executivo disse que estão sendo feitas auditorias periódicas internamente para verificar a existência de pagamentos de propinas ou de corrupção.
"Eu não posso comentar os detalhes destas auditorias porque nós estamos na vigência de um inquérito judicial", disse.
No entanto, Kron afirmou "que o resultado dessas auditorias não confirma de forma alguma as alegações constantes da imprensa, por exemplo".
Ritmo de expansão
Hoje, a Alstom emprega cerca de 4 mil pessoas no Brasil e mantém duas unidades fabris, uma em Taubaté, no interior paulista, outra no bairro da Lapa, na capital de São Paulo.
"Nos últimos doze meses nós contratamos 800 pessoas e, nos próximos 12 meses, vamos contratar um número grande de funcionários", disse.
Porém, o executivo não quis revelar valores de investimentos previstos, tampouco quanto a empresa pretende faturar com seus negócios no projeto Madeira.
Parceria com a Bardella
Sobre a nova fábrica em Rondônia, Kron informou que a empresa construirá a unidade em parceria com a Bardella.
Cada companhia terá 50% da nova fábrica, que receberá investimento de R$ 80 milhões (€ 30 milhões).
"A fábrica será menor que a de Taubaté, mas não será uma unidade isolada, já que ela vai trabalhar em conjunto com Taubaté (principal unidade da empresa), que é uma das maiores do mundo", disse.
A iniciativa para a instalação da unidade no Norte do País se deu por conta de um contrato fechado entre a Alstom e a Odebrechet, a líder do consórcio vencedor da usina de Santo Antônio, que utilizará as turbinas desenvolvidas pela empresa francesa.
"Estamos trabalhando neste contrato, mas no momento não podemos fornecer detalhes já que se trata de um consórcio liderado pela Odebrecht", disse.
"Posso dizer que é um negócio grande, tão grande que vamos construir uma nova fábrica para acrescentar à produção de Taubaté", afirmou.
"Nossa fábrica de Taubaté já forneceu para todas as grandes hidrelétricas do mundo, seja no próprio Brasil, na América Latina e até mesmo na China", acrescentou.
Trem Bala
Kron ressaltou a importância de investimentos em linhas ferroviárias de alta velocidade para passageiros, diante dos problemas de poluição, congestionamento no trafego aéreo, nas estradas e aumentos no preço do petróleo.
"Estamos muito interessados nos projetos que possam ser desenvolvidos no Brasil relativos a trens de alta velocidade e vamos colaborar com o Ministério dos Transportes se isso acontecer", afirmou, completando que a empresa tem interesse em participar do projeto de instalação de um trem bala ligando Rio a São Paulo.
"Nos consideramos extremamente qualificados para propormos ao Ministério dos Transportes a melhor solução técnica e econômica (para o projeto)", afirmou.
Por enquanto, o governo brasileiro tem mantido conversas sobre o projeto do trem bala com os japoneses.
"Eu não posso imaginar que as autoridades não venham a contatar a nossa empresa, que tem, fora do Japão, mais de 70% de todos os trens no mundo que viajam a mais de 300 quilômetros por hora", argumentou.
"Quando houver um edital de concorrência nós vamos responder a esse edital".
Montante dos negócios
Segundo Kron, no Brasil, a Alstom fatura cerca de € 1 bilhão.
"Mas de um ano para o outro há variações, conforme os projetos".
Além disso, o presidente afirmou que, deste montante, 50% é de exportações da Alstom a partir do Brasil a outros países.
No mundo, o faturamento supera € 16 bilhões.
(Fonte: Gazeta Mercantil/Ariverson Feltrin, Denis Cardoso e Roberta Scrivano)
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