Caso Alston - várias notícias

Há 2 anos, diretor da empresa no país foi preso por suspeita de participar de golpes  
    
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um diretor da área de energia da Alstom no Brasil, o engenheiro Osvaldo Panzarini, foi preso há dois anos pela Polícia Federal sob suspeita de participar de um esquema de golpes contra as maiores companhias hidrelétricas do país -Itaipu Binacional, Furnas, Eletronorte e Eletrosul.
O golpe era complexo. Um ex-funcionário de Itaipu, Laércio Pedroso, dizia a empresas que vendiam produtos ou prestavam serviços a hidrelétricas que elas tinham direito a receber valores que essas companhias não reconheciam -seriam restos a pagar corrigidos. Pedroso dizia ter meios de fazer a empresa pagar.
O diretor da Alstom foi flagrado em conversas telefônicas combinando um golpe contra a Itaipu Binacional, mas o caso não deve ter maiores implicações criminais.
A Polícia Federal concluiu no inquérito da chamada Operação Castores que não houve prejuízo para Itaipu porque o golpe não foi concretizado -a ação da PF ocorreu durante a preparação.
A apuração foi solicitada pela própria Itaipu Binacional. O ex-funcionário de Itaipu conhecia detalhadamente a contabilidade da companhia porque tinha um sobrinho que trabalhava na PriceWaterhouse, empresa que fazia auditorias nas contas da hidrelétrica, segundo apurou a PF.

Eletronorte
A Alstom aparece em outra ponta da investigação da Operação Castores, sobre a Eletronorte. Um assessor do senador Valdir Raupp (PMDB-RO), José Roberto Paquier, foi apanhado numa conversa telefônica com um funcionário da Alstom, na qual ele pede dinheiro para liberar um pagamento da Eletronorte para a empresa francesa. Raupp demitiu Paquier. Segundo a PF, não havia indícios da participação de Raupp na cobrança de propina.
Telefonemas gravados e documentos apreendidos pela PF com o então assessor do senador trazem indícios de que a Alstom pagou propina para receber por turbinas que vendera para a Eletronorte. Essa investigação ainda não foi concluída pela polícia.
A Alstom não quis comentar as investigações -a assessoria da empresa disse que não há novidades. A Folha não conseguiu localizar o ex-assessor de Raupp. A assessoria do senador informou que não tem mais contatos com Paquier.Texto Anterior: Outro lado: Alstom nega envolvimento em corrupção
 
 
 
Metrô vai investigar contratos feitos com a multinacional Alstom  
    
Decisão foi tomada após reportagem publicada no "Valor" apontar que a empresa é investigada por pagamento de propina no Brasil

Policiais suíços teriam dito a colegas brasileiros suspeitar que US$ 6,8 mi foram pagos como propina pela Alstom para obter contrato do Metrô

DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O Metrô de São Paulo decidiu ontem investigar os contratos firmados com a empresa Alstom entre 1995 e 2003, após reportagem publicada pelo jornal "Valor" sobre a investigação, aberta na França e na Suíça, para apurar indícios de que a multinacional pagava propina para obter contratos no Brasil.
Segundo o diário, que reproduz reportagem do "The Wall Street Journal", policiais suíços, em contato com colegas brasileiros, disseram suspeitar que US$ 6,8 milhões foram pagos como propina pela Alstom para ganhar um contrato de US$ 45 milhões com o Metrô.
Por meio da assessoria de imprensa, a Divisão de Combate a Crimes Financeiros da Polícia Federal, em Brasília, informou que não foi procurada por representantes de polícias da França ou da Suíça para tratar de casos envolvendo a Alstom.
O Ministério Público de Paris abriu um inquérito em novembro de 2007 motivado por uma denúncia da Justiça da Suíça. Em 2004, autoridades suíças descobriram documentos que provavam que 20 milhões destinados a companhias offshore ligadas à Alstom na Suíça e em Liechtenstein passaram pelo Tempus Privatbank AG, um pequeno banco suíço de investimentos, antes de serem transferidos para contas no Brasil, na Venezuela, na Indonésia e em Cingapura.
O escritório de auditoria e consultoria financeira e tributária KPMG, responsável por auditar as contas do Tempus, concluiu que a operação bancária em questão era destinada a financiar atos de corrupção.
Além dessa suspeita, um intermediário de um político brasileiro, não identificado na reportagem, teria pedido comissão de 7,5% da Alstom para facilitar que a empresa firmasse contratos com o Metrô.
O suposto caso de corrupção teria ocorrido nas gestões do governador Mário Covas, que assumiu em 1995, e do ex-governador Geraldo Alckmin, que deixou o cargo em 2006, ambos do PSDB.
Em nota oficial, a companhia afirmou que vai averiguar todos os contratos do período, mas não informou o montante dos contratos em vigor. Já a Alstom nega que tenha por prática pagar propinas.
A Alstom faz parte do consórcio das empreiteiras OAS, Queiroz Galvão e CBPO-que, em 2004, assinou contrato de R$ 1,8 bilhão com o Metrô para o primeiro trecho da linha 4.
Em setembro do ano passado, o TCE (Tribunal de Contas do Estado) condenou um contrato firmado em março de 1994 pelo Metrô e a multinacional, no valor aproximado de US$ 50 milhões, por conta da inclusão de itens não previstos no edital e da prorrogação por nove anos, através de aditivos.
Em outubro de 2007, a Folha revelou que o Metrô vai gastar R$ 70 milhões a mais na aquisição de 16 trens por ter retomado um contrato de 1992, herdado pela Alstom.
A informação de que o preço seria menor, caso houvesse nova licitação, é da própria multinacional. O valor total é de R$ 500 milhões. O Metrô negou haver prejuízo. O caso está no Tribunal de Contas do Estado.
Ainda segundo o "The Wall Street", as autoridades obtiveram documentos que indicavam que a empresa havia reservado US$ 200 milhões para pagar comissões para fornecer equipamentos de US$ 1,4 bilhão para a hidrelétrica de Itá, na região Sul do país.
A Eletrosul e a Tractebel, por meio de suas assessorias de imprensa, informaram não ter tido vínculos com o processo.
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, CINTIA CARDOSO e DIMITRI DO VALLE)

 

 
Alstom nega envolvimento em corrupção  
    
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

A Alstom nega ter envolvimento nas práticas de corrupção e pagamento de propina. Procurada pela Folha, a empresa afirmou que não comentaria "pontos específicos" das acusações. Em comunicado oficial, a companhia diz que as informações publicadas são baseadas em "hipóteses e especulações e que mencionam pessoas que nunca fizeram parte da empresa ou que deixaram o grupo em 2001".
As investigações sobre as atividades da Alstom foram conduzidas pela Divisão Nacional de Investigações Financeiras, órgão ligado ao Ministério do Interior da França, que ontem não respondeu às ligações da Folha.
Em Paris, os juízes Renaud van Ruymbeke e Xavière Simeoni são os responsáveis pelo caso, mas, até o momento, a Alstom não foi acusada.
A Alstom diz que não foi investigada por corrupção, e que nas audiências citadas seus funcionários participaram como testemunhas.
A maioria dos atos investigados ocorreram antes de 2000. A lei francesa não considerava como crime o ato de pagar propinas para obter contratos no exterior. A lei mudou em 2000, quando o ato passou a ser punido com até dez anos de prisão.
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirma não haver constrangimento devido à investigação. "Eu não tenho conhecimento. Mas se tiver que investigar, que se investigue. Eu assumi o governo em 2001, mas, se o contrato foi assinado no período do governador [Mário] Covas, tenho certeza de que ele teria o mesmo pensamento: apure-se."
A Folha procurou ontem quatro ex-presidentes do Metrô durante as décadas de 1990 e 2000. Miguel Kozma, ex-presidente (2002-2003) e secretário-adjunto de Transportes Metropolitanos entre 1995-2002, disse não se lembrar de nenhum grande contrato com a Alstom.
O antecessor de Kozma, o físico Caetano Jannini Neto, também foi procurado. Há um telefone em nome dele em Campinas (SP), que não era atendido ontem à tarde.
Também foi procurado Antonio Sergio Fernandes, presidente do Metrô na década de 1990, mas ele não foi localizado ontem. O mesmo ocorreu com Paulo Goldschimidt.