Corrupção de agentes públicos na mira da Operação Big Bang

Investigação prossegue para identificar servidores incluídos no esquema de ‘Perna’
Alan Rodrigues
Agentes do estado envolvidos em corrupção são o próximo alvo da Operação Big Bang, deflagrada segunda-feira e responsável pela prisão de Genilson Lino dos Santos, o “Perna”, apontado como maior traficante do estado. O delegado Arthur Gallas, que preside o inquérito policial, anunciou ontem que as investigações continuam com o objetivo de identificar agentes penitenciários e policiais que fariam parte do esquema montado pelo traficante na Penitenciária Lemos Brito (PLB), permitindo a entrada de drogas, armas e dinheiro.

As declarações foram feitas na abertura do seminário internacional Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro em Debate na Capital Baiana, organizado pela associação dos delegados da Bahia, que coincidiu exatamente com a megaoperação de desarticulação da maior quadrilha de tráfico de drogas no estado. Arthur Gallas afirmou que várias prisões ocorridas no primeiro semestre foram fruto das investigações, inclusive com escutas telefônicas do grupo comandado por “Perna”.

O delegado também revelou que “Perna” planejava infiltrar alguém no Ministério Público Estadual. A ex-advogada dele, com quem tinha um relacionamento e encontros íntimos na própria cela, teve um curso de preparação para o concurso do MP pago pelo traficante. Os dois se separaram quando “Perna” descobriu que ela tinha traído ele com outro detento e, por pouco, a advogada não foi assassinada.

Servidores - O secretário de Segurança Pública do Estado, César Nunes, também comentou a possibilidade de envolvimento de servidores públicos na rede de corrupção do traficante. “É óbvio que, se o sujeito tinha todas as facilidades, os servidores têm que estar envolvidos”, concluiu. Durante o seminário, o delegado de Crimes Contra o Patrimônio, Arthur Gallas, sugeriu a criação de um departamento de inteligência exclusivo da Polícia Civil, além de um departamento de combate ao crime organizado e uma vara especializada para julgar os inquéritos originados no departamento junto ao Tribunal de Justiça. “Hoje só o Ministério Público, com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas e de Investigações Criminais), tem um grupo voltado exclusivamente para o crime organizado”.

O coordenador geral de Defesa Institucional da Polícia Federal, Fernando Segovia, que veio de Brasília para o seminário, falou também sobre a necessidade de integrar as ações no combate ao crime organizado e da dificuldade de administrar vaidades. “Só o trabalho integrado da União, polícias Civil e Militar pode enfrentar o tráfico. Temos que acabar com o orgulho que ainda existe por parte de algumas pessoas. É preciso ter espírito público de compartilhar informações e deixar de lado as disparidades salariais. É preciso valorizar e capacitar todas as categorias, mas cada um dos atores tem que reconhecer seu papel enquanto estrutura estatal”.