Crise faz Yeda anunciar gabinete de transição

Higino Barros
Especial para O GLOBO

PORTO ALEGRE. A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), anunciou ontem a criação de um gabinete de transição com os partidos de sua base para reestruturação de seu secretariado, após o afastamento de dois secretários e mais três auxiliares envolvidos em denúncias em autarquias estaduais. Hoje devem ser divulgados os nomes dos integrantes do gabinete. A governadora pediu que todos os secretários entregassem os cargos.
Os novos titulares do secretariado serão indicados em sete dias, a partir do trabalho do gabinete de transição.

— Não quero chamar para esses cargos pessoas que não tenham respaldo político. Vou formar um gabinete com os partidos da base — afirmou Yeda.

Segundo o Palácio Piratini, os aliados deixarão Yeda à vontade para fazer as mudanças necessárias.

Vice-governador será ouvido por força-tarefa Num encontro com o procuradorgeral de Justiça do Estado, Mauro Renner, Yeda oficializou a formação de uma força-tarefa para realizar um pente-fino nos órgãos citados pelo ex-chefe da Casa Civil, Cézar Busatto, em gravação feita pelo vice-governador Paulo Afonso Feijó. Na conversa, Busatto afirmou que estatais gaúchas são usadas como fonte de financiamento de campanhas. Feijó, adversário de Yeda, gravou a conversa e levoua à CPI do Detran.

Os primeiros alvos da forçatarefa serão a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), o Detran, o Banrisul e o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). Ontem foi publicada a exoneração do diretor de Obras do Daer, José Luiz Rocha Paiva, citado na conversa entre Feijó e Busatto. Foi o quinto membro do governo afastado em meio ao escândalo.

A força-tarefa ouvirá hoje o vice-governador para saber se ele tem outros elementos que indiquem a existência de corrupção em instituições públicas.

Pivô da crise, Feijó se defendeu das críticas que tem recebido por ter gravado a conversa.

E disse que também procurará o Ministério Público.

— Busatto continuaria secretário e a sociedade continuaria sem nada saber. Vejo que já foi feito um bem ao não ter mais essa pessoa no nosso governo.

Ao depor ontem na CPI do Detran, na Assembléia Legislativa, Busatto alegou que cometeu imprecisões de linguagem na conversa com Feijó e disse que foi sacrificado politicamente: — Nas circunstâncias em que estava, tentando abrir diálogo com o vice-governador, posso ter cometido imprecisões de linguagem.

Se soubesse que estava sendo gravado, teria precisado melhor o que estava dizendo.

E seguiu: — Fui traído, levei uma facada pelas costas, mas sobrevivi.

Feijó negou que tenha intenção de derrubar a governadora.

Disse que não teme punição do DEM por ter provocado uma crise no governo de uma legenda aliada. O presidente estadual do DEM, Onyx Lorenzoni, disse que conversou com o presidente nacional da legenda, Rodrigo Maia, sobre o caso: — Vou a Brasília levar elementos para que os líderes do partido conheçam tudo. Vou procurar a liderança nacional do PSDB mostrar que o caso se resume a uma desavença entre o Feijó, o Busatto e o presidente do Banrisul — disse Lorenzoni.

A executiva estadual do PSOL decidiu entrar com pedido de crime de responsabilidade contra Yeda Crusius. A deputada Luciana Genro entregou a resolução a Feijó. O documento, encaminhado à Assembléia, propõe eleições diretas antecipadas para o governo estadual.

Com a agência RBS