Debate sobre crise e corrupção aquece a Conferência

Visões discordantes sobre as causas da corrupção, entre os palestrantes, enriqueceram as propostas de solução

Faltou espaço para tanto público na mesa “Crise Econômica: mais corrupção ou oportunidade de um novo modelo?”, realizado na tarde de ontem, na Conferência Ethos 2009. Mais de 260 pessoas acompanharam atentamente ao painel, desta vez, com um esquema de funcionamento diferente do habitual.

O debate, mediado pela jornalista Miriam Leitão, foi dinâmico e divertido e arrancou risadas do público. Com perguntas provocativas, direcionadas para representantes de distintos segmentos: governo, academia, movimento social e empresarial, os painelistas argumentaram suas posições.

Ao ser indagado sobre os princípios regulatórios do combate a corrupção, o professor de Ética e Filosofia Política na USP, Renato Janine Ribeiro, disse que já se avançou bastante quanto à disponibilização de informações. O professor acha que a educação faria as pessoas se empenharem e cobrarem mais por um comportamento ético. Para ele, “o País está descrente de si próprio”.

O ministro da Controladoria Geral da União, Jorge Hage Sobrinho, discordou. Ele não acha que o Brasil seja mais corrupto do que outros países, ou que o problema seja cultural. Para ele, a corrupção é um problema universal. O agravante aqui é a impunidade, afirma o ministro. Para Hage a imprensa está atenta, o Ministério Público é atuante e há uma cobrança social sobre os órgãos governamentais. Citou como exemplo a parceria estabelecida entre a CGU e o Instituto Ethos, que representa uma demanda da própria sociedade. Segundo ele, há vários projetos de lei com o objetivo de combater a corrupção, em tramitação no Congresso, que não estão em pauta por falta de interesse dos parlamentares.

“Na verdade, o jeito certo é ser esperto”, provocou o membro da Comissão Brasileira da Justiça e Paz, Chico Whitaker. Infelizmente, segundo ele, no Brasil a empresa que se envolve com corrupção ganha “rios de dinheiro”. “Se a empresa não é fiel à lei de Gerson é uma empresa boba”, declara. Whitaker enfatiza que o problema de fundo é a crise civilizatória. Sua origem é a ganância, ganhar o máximo de dinheiro no menor tempo possível.

Depois de contestado por Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos, Whitaker esclareceu que o pobre já consegue distinguir o jeitinho brasileiro da corrupção. “Acredito firmemente na relevância da colaboração do setor público e privado, porque a corrupção ocorre nessa interface”.  Whitaker conclamou a participação de todos na campanha Ficha Limpa. A meta é coletar 1,3 milhão de assinaturas para impedir que candidatos já julgados culpados em primeira instância, se candidatem a cargos públicos.

O presidente do Global Reporting Initiative, Ernst Ligteringen, lembrou que há diferentes formas de corrupção, “não é só pagar algo para alguém que dá um beneficio”. Existe também outras formas de influências. A transparência é muito importante e “não é fácil”, reconhece, pois as regras existem, mas são difíceis de serem aplicadas. E questiona: Sabemos como é ser corrupto e ter um desempenho aceitável? (Envolverde)

Silvia Marcuzzo e Ivy Garcia, especial para o Ethos