Delegado só fala após Dantas ser condenado

O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz afirmou ontem que, embora encontre a imprensa "ávida" por "dialogar" com ele sobre a operação Satiagraha, só irá fazer comentários "após a condenação do bandido, do banqueiro disfarçado de investidor financista, Daniel Dantas".

Em entrevista em Porto Alegre, durante ato de solidariedade promovido pelo PSol, Protógenes disse que o País vive "uma crise institucional sem precedência na história", crise esta que, segundo ele, começou junto com a deflagração da operação Satiagraha, que coordenou. "No momento, não posso me manifestar sobre o mérito dessa crise, porque estamos no limiar de uma decisão", declarou o delegado na entrevista coletiva, ao justificar por que não faria comentários sobre o conteúdo da crise.

"Em respeito à decisão do Judiciário e, por acreditar na Justiça brasileira, acredito que logo, logo, vamos ter uma sentença à altura do que a sociedade está esperando, à altura do que nós merecemos deste Judiciário brasileiro", acrescentou, numa referência à decisão sobre o caso que será proferida após quarta-feira, pelo juiz Fausto De Sanctis.

"Após a decisão do doutor Fausto De Sanctis, que vai ser uma sentença condenatória, eu tenho absoluta certeza disso, e eu posso falar, porque eu não sou juiz, eu sou delegado de Polícia e eu sei o que eu coletei nos autos, aí sim eu vou me pronunciar", afirmou ele.

O delegado Protógenes foi acompanhado, durante a entrevista, pela ex-senadora e vereadora eleita de Maceió Heloisa Helena, a deputada federal Luciana Genro (PSol-RS), o presidente do partido no Rio Grande do Sul, Roberto Robaina, e o vereador eleito Pedro Ruas (também do PSol).

O partido organizou um "ato contra a corrupção" no centro da capital gaúcha, definido pela ex-senadora como manifestação de "solidariedade" ao delegado. Em discurso, a deputada federal Luciana Genro disse que há uma operação em andamento para "desmoralizar a investigação de Protógenes" e uma "conspiração" a favor do banqueiro Daniel Dantas, que teve prisão decretada quando a operação foi deflagrada e foi libertado por habeas-corpus, concedido pelo STF.

O vereador eleito de Porto Alegre Pedro Ruas (PSol) defendeu a conduta de Protógenes na investigação. "Vivemos uma situação incrível, em que quem investiga e prende passa a ser processado", criticou o vereador, referindo-se ao inquérito que apura o vazamento de informações da operação.

Ontem, durante seminário de delegados da Polícia Federal na capital paulista, policiais afirmaram que o crime organizado está por trás das ações para desestabilizar a corporação. "O que estamos vendo são situações para enfraquecer a PF", afirmou o presidente do sindicato da categoria no estado, Amaury Portugal. A opinião de Portugal foi acompanhada pelo delegado Carlos Eduardo Pellegrini Magro, que atuou na Satiagraha. "Há realmente uma infiltração do crime organizado", disse.

Pellegrini foi acusado pelo Ministério Público Federal de ter admitido o vazamento da ação policial. Porém, ontem, ele negou. "Tinham várias testemunhas na reunião", afirmou delegado, referindo-se ao encontro de policiais e dirigentes da PF, dois dias depois de deflagrada a operação, para analisar o resultado da ação.