E para o corruptor, nada?

Antônio Werneck

Uma cidade doente, vivendo uma grande crise de moralidade, é a única explicação encontrada pelo coronel José Vicente da Silva Filho, pesquisador do Instituto Fernand Braudel, com sede em São Paulo, para explicar situações como a revelada pelo GLOBO domingo. Com a experiência de quem já foi secretário nacional de Segurança Pública, o coronel lembra que é preciso denunciar o policial corrupto, mas não se pode esquecer o corruptor: o motorista que circula de forma irregular e que, ao ser flagrado, acaba oferecendo recompensa para escapar da punição.

— Ao encontrarmos um corrupto, vamos encontrar na outra ponta um corruptor.

Parece uma situação menor quando um motorista com o IPVA do carro atrasado oferece um cafezinho ao guarda.

Parece, mas não é. Um pequeno ato de corrupção é um grande crime — afirma José Vicente, defendendo que o policial e seus supostos corruptores sejam investigados da mesma forma.

O coronel acredita que a sociedade esteja passando por uma crise moral: — É uma sociedade que reclama dos maus policiais, mas oferece-lhes dinheiro para se livrar de uma infração.

Embora a prisão de policiais por suspeita de extorsão não seja exatamente novidade, desta vez a Corregedoria da PM pretende, pelo menos, ouvir também os motoristas abordados, suspeitos de corrupção ativa.