Empresário acumula fortuna e processos

DO ENVIADO A ROMA

Fraude e evasão fiscal, contabilidade falsa, financiamento ilegal, corrupção, suborno de fiscais da Receita e de um juiz, apropriação indevida de fundos. Essa é a biografia -ou o histórico judicial de 12 processos- de Silvio Berlusconi, 71, eleito pela terceira vez premiê da Itália.
É verdade que a maior parte terminou na absolvição do segundo homem mais rico da Itália ou na prescrição. Mas é o suficiente para a sóbria revista britânica "The Economist", na primeira tentativa de Berlusconi de chegar ao poder, em 2001, ter colado nele a tarja de "unfit" (indigno) para governar.
Ainda assim, os italianos o elegeram de novo, como em 1994, na primeira incursão política desse empresário de sucesso.
Começou trocando lições de casa por doces e favores, quando estudava em uma escola católica de Milão, onde nasceu em 1936, filho do caixa de um banco. Estudou latim, grego e filosofia, graduou-se em direito, mas se formou com muito mais destaque nos negócios, a partir da construção de um pequeno bloco de apartamentos em Milão financiado pelo chefe de seu pai. Hoje, tem bens (declarados) de 139 milhões, dados de 2006.
Berlusconi parece onipresente nos negócios: vão do clube de futebol Milan AC a 3 dos 7 canais de TV aberta do país (outros três são estatais). Quando governa, portanto, manda em seis de sete canais, um evidente "conflito de interesses".
Tantas acusações, que recomendariam contenção, não o impedem de chamar de herói o guardião de sua vila ao norte de Milão, um complexo de 147 dependências e um mausoléu subterrâneo. Vittorio Mangano era um dos "capi" da Cosa Nostra, condenado por homicídio múltiplo, como recordou ontem o "La Repubblica".
Com esse perfil, a terceira vitória de Berlusconi só poderia ser atribuída ao êxito como governante. Mas não houve tal êxito.
No primeiro governo, nem poderia haver: durou nove meses (e o desemprego saltou para 12%). O segundo foi a continuação do até hoje ininterrupto declínio italiano.
Volta agora com um discurso chamado de "populista" pelas publicações estrangeiras. Mas está menos populista, depõe Francesco Daveri, professor de Economia da Universidade de Parma: "Berlusconi conteve em parte o velho hábito de prometer qualquer coisa. Seus fracassos lhe ensinaram que milagres econômicos podem ocorrer, mas, na prática, são difíceis de predizer e de entregar".
E como explicar o novo triunfo? Talvez a melhor resposta venha do taxista Massimo Ludovisi: "Votei no Berlusconi. Ele é o pior dos piores, mas é a mudança". (CR)