Lula afasta cúpula da Abin por denúncias de grampos ilegais

LÍSIA GUSMÃO
colaboração para a Folha Online, em Brasília
GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou nesta segunda-feira (1º) o afastamento temporário de toda a cúpula da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), após denúncias de que autoridades dos três Poderes teriam sido alvo de escutas telefônicas ilegais.

O afastamento --que atinge o diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda-- será por tempo indeterminado. Ou seja, vai até a conclusão das investigações da Polícia Federal.

A PF determinou ontem a abertura de inquérito para apurar as escutas, entre cujos alvos esteve o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes. A investigação será feita pela Superintendência da PF no Distrito Federal.

Ueslei Marcelino/Folha ImagemLula anunciou afastamento temporário de Paulo Lacerda até investigação do grampo
O presidente do STF (Supremo Tribunal), Gilmar Mendes, já foi comunicado da decisão. O Palácio do Planalto ainda não confirma o afastamento. Mendes teria sido grampeado por agentes da Abin, segundo reportagem da revista "Veja".

A reação oficial de demitir a direção da agência de inteligência surgiu após um dia de reuniões no Palácio do Planalto e de cobranças públicas para que o presidente Lula adotasse medidas rigorosas, capazes de evitar uma "crise institucional".

A divulgação pela revista "Veja" de que autoridades do governo, do STF e do Legislativo estariam sofrendo monitoramento clandestino alterou a agenda do presidente Lula. A segunda-feira foi atípica no Palácio do Planalto.

Logo no início da manhã, Lula recebeu o presidente do STF, o vice-presidente do tribunal, Cezar Peluso, e o ministro Carlos Ayres Britto, que preside o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Mendes cancelou viagem que faria à Coréia do Sul para cuidar pessoalmente do caso.

À cúpula do Supremo, o presidente Lula manifestou "indignação e preocupação" com as escutas clandestinas, segundo informou o porta-voz Marcelo Baumbach.

À tarde, Lula recebeu o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN) e os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Tião Viana (PT-AC). De acordo com a revista "Veja", os três seriam alvo de escuta.

Segundo Garibaldi, o presidente teria admitido o risco de "descontrole" no uso de grampos telefônicos.

O assunto foi novamente discutido na reunião de coordenação política, quando o presidente selou o destino de Paulo Lacerda.

Monitorados

Em reportagem na edição desta semana, a revista "Veja" publicou trecho de uma conversa telefônica do presidente do Supremo, Gilmar Mendes, com o senador Demóstenes Torres, que teria sido gravada em 15 de julho.

De acordo com a reportagem, a transcrição do diálogo foi repassada por um agente da Abin, impedida legalmente de realizar interceptações telefônicas.

O suposto grampo ilegal aconteceu uma semana depois que a Polícia Federal deflagrou a Operação Satiagraha, na qual foi preso o dono do Opportunity Daniel Dantas, suposto chefe de um esquema de corrupção. O banqueiro deixou a prisão depois que o presidente do Supremo concedeu habeas corpus.

A reportagem de "Veja" sustenta ainda que os telefones dos ministros José Múcio (Relações Institucionais) e Dilma Rousseff (Casa Civil), o ministro do STF Marco Aurélio Mello, e o chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, também foram grampeados.