Magistrado questiona autoridade parlamentar para investigar juízes
O Estado do Maranhão | 22 de janeiro de 2009
Para Ronaldo Maciel, poucos deputados podem apontar o dedo para o Judiciário
Mario Carvalho
Marco Aurélio D’Eça
Da Editoria de Política
O ex-presidente da Associação dos Magistrados do Maranhão (Amma) juiz Ronaldo Maciel, titular da 2ª Vara Criminal, afirmou ontem, em entrevista à Rádio Mirante AM, que pouquíssimos deputados estaduais teriam hoje a coragem de apontar o dedo para o Poder Judiciário, no momento em que denúncias graves de vendas de sentenças judiciais são publicadas na imprensa. As declarações do magistrado foram uma resposta à sugestão dos deputados federais Pedro Fernandes (PTB) e Domingos Dutra (PT) de criação, por parte da Assembléia Legislativa, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar suposta corrupção no seio da magistratura maranhense.
Ele disse que quando a questão da venda de sentenças no Judiciário maranhense se volta para uma simples apuração na Assembléia Legislativa, corre-se o risco de gerar um palanque. “Isso pode levar para o lado político e poucos, pouquíssimos, são deputados, da estirpe de Pedro Fernandes, que pode apontar o dedo para o Judiciário”, ressaltou Ronaldo Maciel.
Nenhum dos deputados estaduais maranhenses se pronunciou a favor da sugestão de Pedro Fernandes. Já o deputado Joaquim Haickel (PMDB) fez questão de assumir publicamente posição contrária. “Problemas no Judiciário são investigados por correição e essa responsabilidade é da Corregedoria de Justiça. O Legislativo nada tem a ver com isso”, afirmou Haickel à coluna “Estado Maior”, de O Estado, quarta-feira última.
Em recesso parlamentar desde dezembro, o Poder Legislativo mantém-se calado sobre importantes fatos gerados no Maranhão neste início de ano. Nenhum deputado estadual se pronunciou, por exemplo, sobre o vandalismo ocorrido em Santa Luzia ou sobre as manifestações do governador Jackson Lago (PDT) favoráveis à violência social relacionada a decisões judiciais contrárias aos seus aliados. Mesmo assim, Fernandes e Dutra resolveram sugerir à Casa o debate sobre venda de sentenças, sugestão recebida com silêncio absoluto, só quebrado pelas declarações de Haickel e do juiz Ronaldo Maciel.
DELAÇÃO PREMIADA
Para Ronaldo Maciel, não é uma simples CPI que trará resultados satisfatórios sobre denúncias no Judiciário, uma vez que isto já ocorreu, em âmbito nacional, sem grandes soluções. “Conseguimos pegar única e exclusivamente o juiz Nicolau dos Santos Neto (acusado de superfaturamento nas obras de construção do prédio do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo). Será que era só o Nicolau, no âmbito do Poder Judiciário, que fazia pouco-caso da ética naquele momento?”, indagou.
O magistrado conclamou a participação do Ministério Público nesse processo de investigação. “O Ministério Público precisa garantir a delação premiada a todas aquelas pessoas que tragam denúncias e comprovem o nome de determinado juiz que tenha vendido sentença ou aquele desembargador que tenha vendido acórdão. Aí sim, vamos apurar e expurgar os envolvidos, pois esse é um caso que incomoda os bons juízes, que são a maioria”, enfatizou Ronaldo Maciel.
Segundo ele, desde que ingressou na magistratura, em 1991, tem ouvido a frase de que o Judiciário maranhense é composto de juízes e desembargadores sérios, mas que também contém uma parte podre. “Ora, temos mais é que identificar essa parte podre, colocá-la para fora, pois isso perturba. Isso de certa forma nos traz preocupação, porque o Poder Judiciário precisa e deve dar exemplo. Não podemos nos acomodar com essa questão de que em todo ramo de atividade tem gente boa e gente ruim e que no Judiciário não pode ser diferente. O Judiciário precisa e deve descobrir quem são esses quadros”, declarou.
O juiz aproveitou para conclamar o deputado Pedro Fernandes, os “quadros bons” da Assembléia Legislativa, o Ministério Público, os advogados e os desembargadores para que façam denúncias concretas contra juízes que possam estar envolvidos em atos de corrupção na magistratura. “Basta de colocar todo mundo na vala comum”, criticou Ronaldo Maciel.
Monitoramento do Pacto
A plataforma de monitoramento do pacto acompanha e orienta o cumprimento do acordo assinado pelas organizações signatárias.