O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT/SP), o Paulinho da Força Sindical, virou a “bola da vez”.

Se eu perder o mandato, a Oi perde o seu negócio   
     
 POR LEONARDO ATTUCH
O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT/SP), o Paulinho da Força Sindical, virou a “bola da vez”.

É o alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga desvios de recursos do BNDES e vem tentando decifrar o que pode estar por trás disso. À DINHEIRO, Paulinho revela que orientou seu conselheiro no banco, o advogado Ricardo Tosto, a votar contra a operação de empréstimo de R$ 2,5 bilhões para a Oi. “Se houve uma armação, ela vai aparecer”, garante. O sindicalista diz que foi contra o negócio, em função dos riscos de demissões. Nesta entrevista, ele também aborda problemas que teve com outras grandes empresas. Leia a seguir.

DINHEIRO – O sr. é investigado como integrante da quadrilha que desvia recursos do BNDES. Qual a sua versão?

PAULO PEREIRA DA SILVA – Na investigação da Polícia Federal, fala-se num tal de PA. Em 52 anos de vida, eu nunca fui chamado de PA. Depois, aparece um Paulinho, citado em conversas de terceiros. Nos relatórios da PF, o que eles próprios colocam é “presumidamente Paulo Pereira da Silva”. Isso basta?

DINHEIRO – Mas como a peça central da investigação é o João Pedro Moura, ex-assessor da Força Sindical, é natural que o sr. seja o Paulinho, não?

PAULINHO – Ele é ex-assessor da Força, mas isso é uma coisa de louco. Uma outra pessoa fala de você, que vira réu no dia seguinte. O que eu fiz? Fui ao plenário e abri os sigilos bancário, fiscal e telefônico. E mais: abri dois outros números de celular, que eles não tinham.

DINHEIRO – Quando a Força passou a ter um representante no BNDES? PAULINHO – Quem fez isso foi o Fernando Henrique, que me chamou para uma conversa e fez o convite à Força. Naquela ocasião, eu disse que seria preciso chamar também a CUT. Assim, as centrais passaram a ter dois membros num conselho de 12.

“Na telefonia, eu pedi ao Tosto que votasse contra o empréstimo do BNDES para a Oi”

DINHEIRO – E qual é o poder efetivo desse conselho?

PAULINHO – Isso ninguém conseguiu explicar. O conselheiro não libera dinheiro. Ele tem uma reunião a cada três meses para discutir as grandes metas do banco. Um empréstimo do BNDES, antes de sair, passa por vários departamentos. Uns 35, eu diria.

DINHEIRO – Mas um conselheiro conhece o caminho das pedras. PAULINHO – O que eu posso garantir é que o conselheiro do BNDES não consegue fazer corrupção. Ele não influencia o conselho nem os departamentos.

DINHEIRO – Mas os grampos da PF sinalizam que prefeituras e empresas pagariam comissões a consultores.

PAULINHO – Mas vamos supor que a Lojas Marisa tivesse contratado uma consultoria para apresentar o projeto no BNDES. Quem está pagando comissão é a Marisa – e não o banco. O BNDES vai receber tudo que emprestou com juros e correção monetária. Se a Marisa quisesse tocar fogo no dinheiro, o problema seria dela.

DINHEIRO – Isso poderia acontecer também com prefeituras? PAULINHO – O que eu posso dizer é que nenhuma delas fala de mim.

DINHEIRO – O que estaria por trás da operação, na sua visão?

PAULINHO – Tem alguma coisa errada. Se eu declaro que não tenho nada a temer, abro todos os meus sigilos, e ainda assim as denúncias não param de aparecer, das duas uma: ou eu sou muito importante, hipótese que eu descarto, ou existe uma armação contra o movimento sindical.

DINHEIRO – Não há exagero nisso?

PAULINHO – Quem está articulando os interesses dos trabalhadores no Congresso? Eu. Quem fez a luta pelo salário mínimo e pela correção do imposto de renda? A Força. Quem legalizou as centrais sindicais, com o dinheiro do imposto sindical? Nós também. Essas coisas incomodam muita gente.

DINHEIRO – Quanto isso vai gerar em recursos para as centrais? PAULINHO – Deve dar uns R$ 70 milhões para todas as centrais, dos quais 75% seriam divididos entre a CUT e a Força Sindical. Isso é uma armação contra os trabalhadores.

DINHEIRO – Mesmo que não libere recursos, um conselheiro pode atrapalhar uma operação já aprovada?

PAULINHO – Nem isso. Eu diria que ele pode denunciar uma operação. Vamos começar pelo caso da Oi. Nós demos uma orientação ao Ricardo Tosto, que é o nosso conselheiro no BNDES. Dissemos o seguinte: “Somos contra porque essa operação vai dar demissão.” Depois, o Luciano Coutinho, presidente do banco, nos procurou diretamente. Disse que a operação era boa para o Brasil e que o banco colocaria dinheiro nela.

DINHEIRO – O sr. acha isso correto?

PAULINHO – Se o dinheiro do banco, que vem do FAT, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, vai gerar emprego, tudo bem. Se vai gerar demissão, não faz sentido. Por isso é que nós pedimos ao Tosto que votasse contra. Depois, essa turma da Oi nos procurou para propor um acordo de garantia de empregos. Quem me ligou foi o Marcos Mendes, diretor de recursos humanos, que colocou o Falco na linha [Luiz Eduardo Falco, presidente da Oi]. O Falco disse: “Assim que passar o 1o de maio, a gente faz uma reunião com vocês, mas eu já garanto que não vamos demitir.” Depois, veio a notícia da prisão do Ricardo Tosto.

DINHEIRO – O sr. crê que o voto dele no BNDES pode ter influído nisso? PAULINHO – Se eles estão por trás disso, o máximo que pode acontecer é eu perder o meu mandato. Continuo vivo e no movimento sindical. Eles é que podem perder o negócio deles. Se tem alguma armação por trás, mais cedo ou mais tarde, ela vai aparecer.

DINHEIRO – Fala-se que a Força teria usado sua influência no BNDES para criar problemas para outras empresas, como CSN e Gerdau. É verdade? PAULINHO – As centrais sindicais brasileiras têm uma relação com o mundo. No caso da Gerdau, os metalúrgicos dos Estados Unidos começaram a bater neles. Eles queriam o apoio da CUT e da Força Sindical a essa campanha. Eu fui contra, porque o que se dizia é que eles iriam reduzir a produção lá para trazer para cá.

Mas pode existir um medo dos grandes empresários em relação a nós.

DINHEIRO – E no caso da CSN?

PAULINHO – A história do Benjamin Steinbruch é mais longa. Eles compraram a CSN num consórcio que também tinha a participação do Bamerindus, do José Eduardo Andrade Vieira. Naquele tempo, o voto dos trabalhadores, que tinham 12%, era muito importante e um dirigente nosso, o Alemão, havia feito um acordo com o Andrade Vieira.

Ninguém teria a presidência sem o nosso voto. Mas, depois, nós fizemos um acordo com o Benjamin. E ele controla a CSN porque teve apoio da Força.

DINHEIRO – Vocês pediram algo?

PAULINHO – Não. Mas ele tratou muito mal os trabalhadores. As coisas não andaram como a gente imaginou que poderia acontecer. Depois, um companheiro nosso, o Luiz Fernando Emediato, publicou um livro contando histórias de Volta Redonda [A Usina da Injustiça], que deixou ele chateado.

DINHEIRO – Vocês tentaram travar operações deles no BNDES? PAULINHO – Não. Foi só nesse caso da Oi que houve uma orientação direta da direção da Força Sindical, porque nós ficamos preocupados. Quando surge uma operação mais polêmica, a gente diz para o conselheiro: “Olha, segura isso aí, não vota”.

DINHEIRO – Isso trava uma operação?

PAULINHO – Não. Os trabalhadores têm poder, na verdade, apenas no conselho do FAT, no Ministério do Trabalho. Lá, são quatro representantes do governo, quatro dos trabalhadores e quatro dos empresários. No conselho do BNDES, somos dois em meio a 12 pessoas. Mas é importante dizer que só a Força foi contra o negócio da Oi. A CUT foi a favor. Nosso poder é mais de denúncia do que de parar uma operação. Mas, no caso da Oi, se não houver demissões, tudo bem.

DINHEIRO – Como as denúncias afetam seus planos políticos? O sr. será candidato à Prefeitura de São Paulo?

PAULINHO – O nosso bloco de partidos vem sendo cortejado tanto pela Marta Suplicy quanto pelo Geraldo Alckmin. Mas a decisão é de termos candidato próprio. E existem dois nomes à disposição do bloco: o meu e o do deputado Aldo Rebelo.

DINHEIRO – O bombardeio não inviabilizou sua candidatura?

PAULINHO – Sinceramente, acho que estou ganhando voto. Ando nas ruas, visito as fábricas e todo mundo entende que é armação. Posso estar perdendo votos entre os ricos, que não votam em mim. Na verdade, nunca dei tanto autógrafo como nos últimos dias.

DINHEIRO – O sr. tem medo de perder o mandato de deputado federal? PAULINHO – Não. Eu nunca fui apegado a cargo algum. Tenho uma vida fora disso. Trinta anos atrás, o Lula parou a Scania, numa greve que mostrou a resistência ao regime militar. Dois dias depois daquilo, ajudei a liderar a greve que parou a Deca. Vivo do meu salário e as pessoas me conhecem. As bases estão me acolhendo muito bem. Todos os sindicatos e todas as centrais, incluindo a CUT, estão me dando apoio.

DINHEIRO – Qual é o seu patrimônio?

PAULINHO – Eu e minha mulher temos dois carros, um apartamento em São Paulo, um sitiozinho em Embu [cidade da Grande São Paulo] e a minha filha comprou recentemente uma casinha geminada na praia, que custou R$ 220 mil. O meu patrimônio individual deve ser de uns R$ 350 mil. Se eu tivesse continuado na fábrica, talvez tivesse mais que isso hoje.

DINHEIRO – O que é feito com os recursos dos convênios com o governo federal?

PAULINHO – Não temos mais um real de convênio. Lá atrás, nós chegamos a fazer cursos de qualificação profissional em 2,2 mil cidades do Brasil. Nós éramos obrigados a justificar as despesas, mas o TCU veio e reprovou as contas não só da Força, como também da CUT, da Fiesp e até da Fundação Roberto Marinho. Depois disso, os convênios acabaram.

DINHEIRO – Sua ONG, a do projeto Meu Guri, também foi acusada de receber recursos do BNDES. O que o sr. diz a respeito?

PAULINHO – Quando o Luiz Carlos Mendonça de Barros era presidente do banco, eu pedi uma orientação a ele, que disse que o BNDES usaria cada vez mais o “S”, de social. Nós apresentamos um projeto, aprovamos o empréstimo para a construção da sede e o nosso projeto hoje atende duas mil crianças por mês. Quando surgiram as denúncias, eu mandei abrir o sigilo do Meu Guri. Desafio outras ONGs a fazer o mesmo.