O ‘Ética e Cidadania’ e o MCCE

O empresário Carlos Eduardo Medeiros (autor de comentário publicado recentemente neste Leitor JM) é a primeira pessoa a acertar uma análise a respeito do recém-criado Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral (MCCE), muito embora não toque na essência do mesmo, o que explicaria a inadequação histórica e o vazio de finalidade dessa agremiação. Entretanto, não está bem informado e comete equívocos e injustiças com relação ao Movimento Ética e Cidadania, que diga-se de passagem, não acabou conforme profetiza o empresário.
Conceitualmente, Movimento é algo efêmero, surge em fases de crises fenomenais e debelado o motivo, tende a diminuir a intensidade da militância. Muitos dos membros do Movimento de Ética defendiam a troca de nome e de metodologia. Ponta Grossa não tem uma instituição de altos estudos sociológicos, expressão do pensamento social, político e pedagógico. O Movimento preencheu essa lacuna e poderia ter avançado. Nele se reuniram pessoas que produziram uma reflexão teórica e militante sobre a realidade da política nacional, para que imaginavam que ficávamos restritos apenas a Ponta Grossa.
Um movimento representativo porque nele todos os matizes ideológicos se encontraram, para, à luz da democracia, debater os problemas sociais. Um grupo que reunia figuras de alto quilate como Cenir Frare da Cunha e Helenton Taques Fonseca até figuras mais à esquerda como Margarete Munhoz e Prof. Séfora. A causa do Movimento sempre foi legítima e sua luta correspondia à necessidade de moralização e libertação do nosso povo. A demagogia e o oportunismo crassavam entre nós e em nome de falso assistencialismo domesticavam a consciência da população transformando a cidade no caos.
Numa cidade onde nem as instituições de ensino superior cumprem sua finalidade social, não participam do debate político, adoentada por uma despolitização de sala de aula assustadora e isso devido aos modismos acadêmicos aos quais as universidades têm que percorrer, o Movimento de Ética foi o único e se reunir, debater, formar pensamento e discutir e polemizar com toda a sociedade. Estamos então, diante de uma instituição que é maior, nem a Universidade conseguiu lhe superar, ficando na História política do Estado, e ali com figuras que não produziram teses de prateleiras.
Evidente que como todo grupo que se esforça para intervir positivamente em sua realidade está sujeito à crítica dos estudiosos e das forças políticas. Cabe à pesquisa e à História mostrar os nossos erros. Um deles, inicialmente o grupo constou de mais de trezentas pessoas, vinculadas a partidos interessados nas eleições, as quais depois que assinaram o livro de fundação, sumiram. Conseguiram seus intentos, mas também deixaram o grupo livre de ideologias. Seus nomes estão à disposição dos pesquisadores. Um reduzido grupo, mais amadurecido conduz o movimento. Se sua expressão atualmente é mais cautela, menos evidente, é porque a cidade e a classe política amadureceram também. Resultado do trabalho do Movimento Ética e Cidadania, consequentemente, fruto missionário Arcebispo Dom João Braz de Avis, bispo do qual a cidade não podia ser digna, lhe bastava o clero feudal e reacionário e os políticos oportunistas.

Acir da Cruz Camargo, historiador (acirpg@hotmail.com)