O PMDB, a corrupção e a geleia geral brasileira

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) assumiu um duro discurso contra o seu partido no momento em que a maioria dos líderes peemedebistas convergem para a candidatura do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e declarou publicamente o seu apoio ao governador de São Paulo, José Serra (PSDB). "Acredito muito em Serra e me empenharei em sua candidatura à Presidência da República", disse, em entrevista à revista "Veja". Vasconcelos, que foi apoiado internamente apenas pelo ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, puxa, assim, o cordão do PMDB que deverá rachar com o governo em 2010 e apoiar o candidato tucano - ele mesmo admitiu, na entrevista, que esse racha é inevitável e serve ao perfil clientelista de "90% do partido, que aderirá com conforto ao Palácio do Planalto qualquer que seja o eleito".

"O PMDB vai se dividir. A parte majoritária ficará com o governo, já que está mamando e não será possível agora uma traição total. E uma parte minoritária, mas significativa, irá para a candidatura de Serra. O partido se tornará livre para ser governo do lado do candidato vencedor", afirmou. E foi muito mais duro com o seu partido do que isso. Segundo ele, o PMDB começou a se tornar uma "máquina clientelista" a partir de 1994, quando resolveu ser governo sem ter o trabalho de disputar a eleição. "Daqui a dois anos o PMDB será ocupante do Palácio do Planalto com José Serra ou Dilma Rousseff. Não terá um gabinete presidencial pomposo no 3º andar, mas terá vários gabinetes ao lado".

Embora tenha localizado o início do processo de adesão ao clientelismo do PMDB em 1994, ano em que Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disputou o seu primeiro mandato à Presidência da República, Vasconcelos atribuiu ao atual governo a culpa pelas mazelas da política brasileira. "É um governo medíocre. E o mais grave é que a mediocridade contamina vários setores do país. Não é à toa que o Senado e a Câmara estão piores. Lula não é o único responsável, mas é óbvio que a mediocridade do governo dele leva a isso". Ao PMDB, dedicou acusações graves, como usar cargos para "fazer negócios, ganhar comissões". "Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção", disse. O senador Renan Calheiros "não tem condição moral ou política para ser senador, quanto mais para liderar qualquer partido"; a eleição do senador José Sarney para a presidência do Senado é um "retrocesso", porque "a moralização e a renovação são incompatíveis com a figura do senador", completou.

Vasconcelos tem uma história política de 46 anos totalmente ligada ao partido. Foi um de seus fundadores e militou na "ala autêntica", importante grupo de resistência à ditadura. Permaneceu no PMDB quando um racha liderado por Mário Covas fundou o PSDB. Os políticos que deixaram na época o partido e foram atrás de Covas já tinham severas críticas à condução do PMDB, que se tornou uma federação de partidos regionais, em que lideranças locais passaram a ter grande poder sobre a estrutura nacional e enorme necessidade de benefícios do governo federal para se manterem nos Estados. O senador tinha uma afinidade política muito maior com a parte que rachou, mas tomou também uma decisão regional: o PMDB em Pernambuco tinha um forte apelo eleitoral, era dominado por ele e não tinha por que abandoná-lo. Teve uma relação estreita com os dois governos de FHC. Com ligações históricas com Serra, deu apoio a Lula depois de eleito, em 2002, mas não queria que o PMDB aceitasse cargos no governo.

Eleito para o Senado em 2006, isolou-se na bancada quando foi a favor do afastamento do presidente do Senado, Renan Calheiros, um dos cardeais do PMDB de agora, que era acusado de usar o dinheiro de um lobista para pagar pensão a uma filha. Foi em meio ao isolamento que deu a entrevista à "Veja". No meio do terremoto provocado pela entrevista, destacou-se a reação do senador Pedro Simon (PMDB-RS), que tem a mesma trajetória política de Vasconcelos. "Acontecem essas mesmas coisas com os outros partidos, PT, PSDB, DEM, PPS e PTB. Estamos numa geleia geral. Acontece que alguns têm mais corrupção porque são maiores que os outros". Ao que parece, em outra ponto eles concordam: "Não tenho para onde ir", respondeu Simon ao repórter que perguntou por que ele não sai do PMDB. "Se eu sair daqui para onde irei?", disse Vasconcelos.