O senhor Alstom

O escândalo de corrupção com obras no Brasil e que vem sendo investigado na Suíça ocorreu na gestão de José Luiz Alquéres, que vencia todas as licitações

 

ADRIANA NICACIO

 

MAIS DE 2,5 MIL PÁGINAS de contratos de metrô de São Paulo ocupam a mesa do promotor Silvio Marques. No Rio de Janeiro, o presidente da Light, José Luiz Alquéres, tenta mudar a forma de cálculo para conseguir um reajuste maior no preço da energia. Homens diferentes em papéis distintos que em breve vão se encontrar. O promotor investiga se a multinacional Alstom pagou US$ 6,8 milhões em propina para vencer licitações de US$ 45 milhões do metrô de São Paulo, entre 1998 e 2006. Bem nesta época, Alquéres foi presidente da Alstom. Nada pesa até o momento contra ele. Aliás, quem o conhece como executivo só tem elogios. Ele ficou conhecido pela gestão à frente da Eletrobrás, entre 1993 e 1994. De lá para cá, acumulou uma vasta e bem-sucedida experiência no setor privado. No comando da Alstom, Alquéres não perdeu uma licitação, atraindo a atenção e a inveja dos concorrentes, que diziam que o ponto forte da Alstom era o “fator político”. Conseguiu contratos para construir as turbinas de Itaipu e Tucuruí, as termoelétricas do Rio, Paraná, Bahia e São Paulo. Colocou o País entre os cinco mais importantes da Alstom francesa, com crescimento de 40% ao ano. Em 2006, ele acertou sua saída. Foi para a Light com a promessa de não se desligar totalmente da empresa francesa.

 

O problema é que autoridades suíças encontraram indícios de pagamento de subornos da Alstom na América do Sul e na Ásia, entre 1995 e 2006, que poderiam somar até US$ 200 milhões. Especializada em transportes e energia, a empresa já foi alvo de outra investigação no Brasil. Em 2006, a PF apreendeu comprovantes de transferência de US$ 550 mil e US$ 220 mil da sede francesa para uma off-shore no Uruguai. O caso foi arquivado por falta de provas. “Sobre a denúncia atual, só tenho os contratos do metrô e estou esperando o material do Exterior”, explicou à DINHEIRO o promotor Silvio Marques. Na França, o presidente mundial da Alstom, Patrick KronKron, nega o envolvimento da empresa. “O grupo tem procedimentos éticos precisos”, diz ele. No Brasil, nenhum comentário. Procurado pela DINHEIRO, Alquéres, o senhor Alstom, evitou falar.