Obama anuncia controle inédito de gastos federais

José Meirelles Passos
Correspondente

WASHINGTON. Reafirmando a sua promessa eleitoral de mudar significativamente a forma como o governo dos Estados Unidos opera, o presidente eleito Barack Obama anunciou ontem duas medidas inéditas no país. A primeira é a de que nenhum dólar do pacote de estímulo econômico que vai lançar em breve poderá ser utilizado em projetos locais criados por parlamentares: o dinheiro só será aplicado em projetos que tenham aprovação federal. A outra é que haverá uma transparência sem precedentes na utilização da verba — que poderia chegar US$ 800 bilhões.
Trata-se de uma forma de acabar com o chamado “earmark money”, o centenário costume de deputados e senadores em utilizar dinheiro federal em obras e serviços que, no fundo, beneficiam à sua pequena clientela eleitoral.

— Vamos ter um novo e mais alto padrão de prestação de contas, transparência e vigilância.
Vamos banir todas as verbas marcadas, com as quais cada parlamentar infiltra em legislações projetos próprios que não são analisados —afirmou Obama.

Dados serão publicados integralmente na internet

Como senador por Illinois ele próprio obteve verbas para vários projetos locais infiltrados em grandes legislações sobre o gasto federal. Segundo Obama, vários colegas abusavam demais do procedimento.
Ontem, ele disse que assim que ficar pronto o pacote será colocado em sua totalidade na internet: — Dessa forma, o povo americano saberá para onde irão seus preciosos dólares e se eles estão surtindo efeitos.
Haverá dois níveis de fiscalização.
O oficial ficará a cargo do Conselho de Contabilidade da Recuperação Econômica e Transparência, que incluirá integrantes do seu governo além de pessoas de fora a serem nomeadas: especialistas em economia, finanças públicas, contratos, contabilidade, auditoria e outras áreas: — Vamos criar um sentido de responsabilidade e prestações de contas que há muito tempo já deveria ter sido implantado em Washington.
O outro nível será composto pela própria cidadania. O novo governo criará um site na internet que permitirá a qualquer pessoa rastrear o fluxo dos dólares.
Segundo um assessor de Obama, o site terá inclusive um sistema de busca semelhante o do Google, dando aos contribuintes a oportunidade de encontrar obras e serviços específicos financiados pelo governo e saber como o dinheiro está sendo aplicado ali.

— No site vai ser possível ver também a estimativa do governo sobre como o dinheiro está afetando as comunidades e a economia em geral – disse um dos assessores de Obama.

Substituto de Obama é barrado no Senado

O presidente eleito também alertou aos americanos sobre a possibilidade de o país enfrentar um “déficit sem precedentes e da ordem de trilhões de dólares nos próximos anos”. Segundo ele, o panorama sombrio exigirá um enorme esforço fiscal do governo.

— Teremos escolhas muito difíceis a fazer para podermos enfrentar esse déficit nos próximos anos — disse ele.

A reabertura do Congresso, ontem, com a solenidade de juramento dos novos senadores e deputados, eleitos em novembro, teve um show à parte. Roland Burris, indicado pelo governador de Illinois como o substituto de Obama, foi barrado à entrada do plenário.
Ele foi recebido por Nancy Erickson, a secretária do Senado, à quem apresentou as suas credenciais. Ela então lhe disse que sua entrada não seria permitida porque os documentos não estavam em ordem. Acontece que eles estavam assinados pelo governador Rod Blagojevich, mas faltava a assinatura do secretário de estado de Illinois, Jesse White.
Ele se recusara a assinar, dizendo que a indicação era inválida, devido à investigação federal sobre o governador, por corrupção e a acusação de ter procurado vender a vaga de senador para alguém. Burris saiu do edifício e numa curta entrevista sob a chuva afirmou que abrirá um processo judicial que o permita se tornar senador.