ONG e Combate à corrupção

Num movimento ainda de pouca visibilidade, a sociedade civil organizada começa a se mobilizar em diferentes Estados brasileiros para combater o avanço da corrupção à sua maneira, com o mínimo de custo e burocracia e o máximo de disposição. Em cinco anos, o número de organizações não-governamentais (ONGs) dedicadas à causa mais do que dobrou. A atuação, até recentemente limitada à de organizações mais preocupadas com o que se passa nas capitais, como a Transparência Brasil e o Instituto Ethos, estende-se hoje a 87 cidades brasileiras em diferentes Estados. Ainda é pouco em comparação com a força das deformações na área pública. A disposição demonstrada por esses vigilantes da moralidade no meio governamental, porém, particularmente no âmbito dos municípios, precisa ser apoiada e incentivada pelos brasileiros em geral.

Diante de seu aspecto inovador e pioneiro, é natural que a fiscalização exercida diretamente pela sociedade organizada seja vista com certo temor, particularmente por parte de quem não tem interesse em prestar contas de sua atuação no setor público. Por isso, é importante que os integrantes dessas instituições procurem agir sempre com o máximo de retidão, evitando fazer com que venham a cair em descrédito. Quanto mais objetividade e mais profissionalismo nas análises, melhores serão as condições encontradas por essas instituições para garantir credibilidade ao seu trabalho.

A confirmação de que o número de ONGs de fiscalização do poder público está em elevação foi feita por duas das instituições mais atuantes nessa área – a Voto Consciente e a Amigos Associados de Ribeirão Bonito (Amarribo), que têm expandido seus tentáculos pelo País. Um aspecto interessante é que, mesmo recorrendo apenas à atuação de voluntários, com escassos recursos financeiros, essas instituições alcançam níveis de eficiência que deveriam inspirar alguns dos organismos oficiais dedicados ao combate à corrupção, cujos resultados nem sempre condizem com o que dispõem de recursos humanos e financeiros. A expansão das ONGs de combate à corrupção no setor público precisa servir para reforçar a atuação dos organismos oficiais. Um risco a ser evitado é que o fenômeno acabe rumando para os mesmos descaminhos que visa a combater.