Oposição alivia tom com Sarney antes de reunião do Conselho de Ética

Na sessão que antecedeu a reunião desta quarta-feira do Conselho de Ética do Senado, a oposição fez acenos ao presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), que, pressionado para deixar o cargo até dias atrás, agora ouve que as denúncias contra ele deveriam ser levadas à Justiça, e não aos seus colegas. Com esse sinal e a substituição de membros do PT no colegiado por parlamentares da base aliada, a expectativa é que os recursos contra o arquivamento de 11 ações relativas a Sarney sejam rejeitados.

PSDB e DEM amenizam discurso e já falam em poupar Sarney

Tida como fiel da balança para a permanência de Sarney na presidência do Senado, a bancada do PT perdeu seu líder, Aloizio Mercadante (SP), que na terça-feira se recusou a atender às pressões do Palácio do Planalto com a indicação de dois membros da base governista para integrar o Conselho de Ética em substituição de dois petistas, Delcídio Amaral (MS) e Ideli Salvatti (SC), que queriam evitar uma decisão que os desgastasse para as eleições de 2010.

"Eu me recuso a fazer esse tipo de coisa. Se for para fazer que seja com outro líder", disse Mercadante. O presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), suplente do suplente do governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, arquivou todas 11 as representações contra Sarney, seu aliado, enviadas ao órgão.

Pouco antes, em discurso conciliador elogiado por parlamentares de vários partidos, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), foi à tribuna do Senado para dizer que Sarney não deve ser cassado pelos colegas independentemente das denúncias que surgem contra ele. Amigo pessoal do peemedebista, o tucano não insistiu para que o colega ao menos deixasse o cargo, como já havia feito.

"É claro que o presidente Sarney sofre um ataque muitas vezes injusto. Tudo que acontecer com ele, comigo ou com outros senadores é questão pública. Mas se vamos cassar alguém? É claro que não. Se vamos discutir esses fatos? É claro que sim", disse o tucano.

"Nunca, na minha vida, cassei o mandato de ninguém por uma questão íntima, acho que o Senado não é para isso, que o Parlamento não é para isso. Se para ser senador tenho de cassar mandatos não serei senador nunca, nem parlamentar. Acho que esse é o campo da Justiça e não o campo do Parlamento."

O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), que já se disse profundamente contrariado em pedir o afastamento de Sarney, disse na mesma sessão que "denúncias ou acusações contra parlamentares não podem continuar sendo avaliadas por parlamentares". O parlamentar foi um dos principais defensores da candidatura do peemedebista à presidência da Casa no início do ano.

Sarney, que presidia a sessão, concordou com Agripino e disse que nunca tinha cassado o mandato de um colega em sua trajetória de 50 anos de vida pública.

O encaminhamento dos debates sinalizou a consolidação do acordo noticiado na semana passada, no qual seriam arquivadas todas as representações contra Sarney e o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgilio, que confessou ter usado irregularmente verbas públicas para pagar um funcionário.

A exceção no tom ficou por conta de dois dissidentes do PMDB, os senadores Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos. O primeiro comentou que se o Conselho de Ética decidir arquivar todas as denúncias apresentadas contra Sarney será "o mais triste da história do Parlamento". O segundo criticou o presidente do Senado pelos ataques ao jornal "O Estado de S.Paulo", que publicou uma série de denúncias envolvendo o peemedebista e seus familiares.