Percepção de corrupção pelo brasileiro é menor

Por Alberto Carlos Almeida, de São Paulo
11/01/2008

 

Entra ano, sai ano, a única coisa que podemos prever acerca da corrupção no Brasil e em todos os países é que haverá escândalos. No Brasil, a tendência é que sejam grandes escândalos. Estudo da Transparência Internacional ajuda a entender esse fenômeno. No Índice de Percepção da Corrupção, elaborado pela Transparência Internacional em 2000, o país fica com a pontuação de 3,9. Bem abaixo dos Estados Unidos, 7,8; Reino Unido, 8,7; Dinamarca, 9,8; e Japão, 6,4.
 

No mesmo estudo, a Transparência mostra que no Brasil o número médio de anos de estudo é 11,1; nos EUA, 15,9; no Reino Unido, 16,5; na Dinamarca, 14,7; e no Japão, 13,9. Portanto, há correlação entre escolarização e percepção da corrupção. Quanto maior a escolarização média da população, maior a percepção em relação aos escândalos de corrupção. Isso significa que haja mais e maiores escândalos no Japão do que no Brasil? Não, ocorre justamente o inverso. 

Corrupção, crimes e acidentes têm a mesma natureza: são coisas que nunca acabam, temos de conviver com elas. É possível, porém, reduzir a quantidade e a gravidade dos crimes, reduzir a quantidade de acidentes e diminuir a corrupção. 

Quando se deseja reduzir os acidentes de carro, por exemplo, sabe-se que é preciso tomar medidas que aumentem a severidade das punições e as tornem mais efetivas. Na redução dos acidentes aéreos, a análise dos vôos por meio dos dados das caixas-pretas tem sido fundamental. Na redução do crime, as políticas sociais combinadas com repressão se mostram efetivas. O que fazer para reduzir a corrupção? 

Líderes

Os dados da Transparência indicam que quanto maior a percepção em relação à corrupção, menos graves e menos freqüentes são os escândalos. Segundo esses dados, os países que lideram a percepção em relação à corrupção são: Austrália, Canadá, Holanda, Nova Zelândia, Reino Unido, Suécia, Dinamarca e Finlândia, entre outros.

Esses países também são líderes na escolarização média de sua população. Os piores colocados são Burkina Fasso, Moçambique, Zâmbia e Indonésia. Deduz-se, portanto, que a corrupção em tais países tende a ser mais grave do que no Brasil. 
 

Competitividade
 

À medida que a escolaridade média da população brasileira aumentar, vai aumentar também a percepção em relação à corrupção e, como conseqüência, os escândalos ficarão menos freqüentes e menos graves. Trata-se de um remédio que exige tempo para que seus efeitos sejam sentidos.
 

Outro fator que pode ajudar a reduzir a corrupção, desde que ocorra conjuntamente ao aumento da escolarização, é a maior competitividade da política. Quanto maior a ameaça de um governante perder o poder, maiores as chances de que ele atenda aos desejos da população. Se um desses desejos for a redução da corrupção, então ele tentará andar na linha, caso contrário, seu opositor vencerá as eleições.
 

Isso ocorre no Brasil de hoje? Sim, a competitividade eleitoral já é muito alta no Brasil atual.
 

 Alberto Carlos Almeida, professor universitário e sociólogo, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" (Record). 
 

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