Relatórios da PF apontam favorecimento de empresa por prefeito licenciado de Palmas

CONTEÚDO RELACIONADO
03/07/2008 - Operação João de Barro: PF faz devassa nas emendas dos parlamentares 25/07/2008 - Operação João de Barro: obras suspeitas são paralisadas 12/08/2008 - CGU vai sortear 50 municípios para fiscalizar obras do PAC 29/08/2008 - MP vai analisar se PF favoreceu dirigente petista

Em troca de um aparelho de ginástica de R$ 9 mil, o prefeito licenciado de Palmas (TO) e candidato à reeleição, Raul Filho (PT), agiu pessoalmente para favorecer um consórcio de empreiteiras que está na iminência de vencer uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no valor de R$ 55 milhões. É o que revelam relatórios inéditos da Polícia Federal sobre a Operação João de Barro, deflagrada em junho, obtidos pelo Correio. Escutas telefônicas feitas pela PF com autorização judicial mostram que, durante as negociações, o prefeito chegou a se queixar a um dos lobistas, Horácio César Fonseca Sobrinho, de que o pagamento do equipamento para a prática de exercícios físicos ainda não tinha sido feito.Uma diligência reservada feita pela PF confirmou o envio do produto de Goiânia para Porto Nacional, cidade que fica a 60km de Palmas. De lá, foi transportado para uma fazenda de Raul Filho. A negociação foi feita por Horácio Sobrinho, preso pela operação. Os agentes da PF anotaram dados da nota fiscal de transporte do aparelho, de 350 quilos e acondicionado em sete volumes.As conversas captadas na investigação, segundo a polícia, mostram a atuação de lobistas ligados ao consórcio Prefisan/Compav com Raul Filho e funcionários da prefeitura para privilegiar o grupo numa obra de drenagem e pavimentação asfáltica em bairros da periferia de Palmas. Servidores repassaram informações sobre a licitação para que o grupo minasse o poder de fogo das concorrentes. Coube ao prefeito Raul Filho, segundo a PF, dissuadir a resistência da presidente da comissão de licitação, Kênia Tavares.Menções“Durante as negociações para o domínio do procedimento licitatório tivemos muitas menções ao nome do prefeito e após sua intervenção, a presidente da comissão de licitação passou a tratar os associados a João Carlos com maior prestatividade”, afirma o relatório, referindo-se ao lobista João Carlos de Carvalho. A PF sugeriu o indiciamento de Raul Filho por formação de quadrilha, corrupção passiva e fraude a licitações. A Operação João de Barro investiga 119 prefeituras por suspeitas de irregularidades em obras públicas, a maioria em Minas Gerais. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão em sete estados. Só Palmas está sob apuração em Tocantins.A articulação do grupo, de acordo com as conversas, começou antes mesmo de o edital de licitação existir. Em 13 de agosto de 2007, os lobistas João Carlos de Carvalho e Horácio Sobrinho comentam num telefonema que a licitação em Palmas é relativa à “urbanização de favelas ou obra similar”. Oito dias depois, quando foi publicado o aviso da licitação, os lobistas, ao telefone, confirmam que vão se reunir com o prefeito. Raul Filho, que disse ter comprado o aparelho de ginástica por intermédio de Horácio, nega ter se reunido com a dupla naquele dia e refuta quaisquer irregularidades no processo.No mês seguinte, a licitação estava em fase de habilitação das empreiteiras. Em telefonema de 25 de setembro, o grupo, segundo a PF, teve acesso privilegiado a informações, fornecidas por Lister Haueisen, funcionário da prefeitura. “Eu acho que você tem razão: eu não vou liberar a relação para ninguém, não”, afirmou Haueisen ao lobista Eduardo Byrro. Outro servidor, Gustavo Jaime Perpétuo Coelho, lotado no gabinete do prefeito, coloca-se à disposição “24 horas” para ciceronear Eduardo Byrro pela capital do estado.Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense.