Repórter da "Folha" teria beneficiado Dantas

No relatório do delegado Protógenes Queiroz, que investiga possíveis crimes financeiros praticados por Daniel Dantas e Naji Nahas, entre outras pessoas, um capítulo em especial é dedicado às relações do banqueiro Dantas com a mídia, que seria usada para "plantar" informações favoráveis a ele ou cometer "assassinatos de reputação" contra desafetos do bilionário banqueiro.
Nas páginas do relatório, além dos jornalistas Leonardo Attuch (IstoÉ Dinheiro), Lauro Jardim e Diogo Mainardi (ambos da Veja), aparece o nome da jornalista Janaína Leite (à época das investigações trabalhando na Folha de São Paulo). De acordo com conversas gravadas com autorização judicial entre Dantas e Janaína, entre março e abril deste ano, a jornalista combinaria reportagens com o empresário. Trechos das gravações estão disponíveis em diversos sites na internet.
Um dos ataques da Folha, em matéria assinada por Janaína, foi contra a juíza federal Márcia Cunha, da 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. Antes das matérias, Márcia Cunha foi a responsável por uma decisão judicial que atrapalhou os planos de Dantas de ter plenos poderes sobre as empresas de telefonia das quais era sócio. Logo após a decisão, a juíza foi alvo de uma campanha pesada. Pressionada, Márcia Cunha denunciou ter sido alvo de uma tentativa de suborno por parte de Eduardo Rascovisky, falando em nome do banco Opportunity. Rascovisky era ligado a Humberto Braz, preso esta semana por oferecer suborno a um delegado federal para retirar o nome de Dantas e seus familiares das investigações da Satiagraha.
Quando a juíza denunciou a tentativa de suborno, a "Folha" incumbiu a repórter Janaína Leite de ir ao Rio cobrir o episódio. No entanto, na matéria de Janaína, a juíza passou de vítima a acusada, em um texto embasado em informações incompletas, com fatos banais distorcidos e fora de contexto.
Mais tarde, a juíza foi entrevistada por Janaína, no que mais se assemelha a um "interrogatório". O Agora publica a seguir a entrevista da juíza Márcia Cunha, concedida a Janaína Leite:

Folha - A sra. foi a autora da sentença contra o Opportunity?
Márcia Cunha - Essa pergunta chega a ser ofensiva. Por sorte, tenho testemunhas que me viram escrevendo. É uma tentativa de desmoralização.

Folha - O texto é muito diferente dos padrões das suas decisões anteriores. Por quê?
Márcia - É um processo complexo, com 18 volumes.

Folha - A decisão saiu em poucos dias. A sra. leu tudo?
Márcia - Claro, eu tinha lido o processo há mais tempo porque dei outras decisões, inclusive favoráveis ao Opportunity.

Folha - A sra. disse que houve uma tentativa de corrupção por intermédio do seu marido. Por que não colocou isso por escrito na sua defesa?
Márcia - Como a senhora sabe disso? Não posso dizer, é algo de maturação sigilosa.

Folha - Mas a sua defesa é pública. E por que denunciar só agora, pela imprensa?
Márcia - Existem coisas que só podemos dizer quando há provas. Naquela época não tinha provas. Só vim a público porque o Opportunity estava distribuindo dossiês contra mim nas redações de jornais, com coisas falsas.

Folha - Na entrevista a "O Globo", a sra. falou que tinha fitas mostrando o diálogo. Houve outras conversas com seu marido?
Márcia - Não vou falar sobre isso. Ir contra os interesses deles expôs meu nome, sai uma coisa torta no jornal e eu nunca mais recupero a idoneidade.

Folha - A sra. comprou um apartamento de quatro quartos em Ipanema pouco depois de dar a sentença?
Márcia - Meu Deus, que absurdo! Eu moro de aluguel.

Folha - A sra. mudou quando?
Márcia - Em maio. Aluguei de um casal de velhinhos.

Folha - A sra. foi a Nova Iorque por conta própria?
Márcia - Para Nova Iorque? Eu fui para os Estados Unidos em uma viagem pessoal em maio e só passei uma noite em Nova Iorque. Fui acompanhar uma pessoa doente. Quem pagou foi ela.

Folha - Casos envolvendo a sra. já foram enviados ao Órgão Especial antes?
Márcia - Não. Tudo isso não passa de uma enorme mentira para macular meu nome.


por Germano S. Leite