Sanepar é citada em operação irregular do banco Opportunity

Em um relatório da Polícia Federal (PF) que serviu como ponto de largada para as investigações da Operação Satiagraha, a Sanepar é citada como uma das empresas que investiu irregularmente no Opportunity Fund, fundo offshore exclusivo para estrangeiros ou residentes no exterior. Além da companhia paranaense, outras quatro empresas e cerca de 300 cotistas são suspeitos de “prática de delito financeiro” e de evasão de divisas, segundo o documento da PF. O presidente do Conselho de Administração da Sanepar, Paulo Henrique Xavier, disse que vai determinar investigação sobre o assunto.

Todas as empresas citadas no relatório – Sanepar, Santos Brasil S.A., Telemig, Amazônia Celular, Metrô (sociedade formada no Rio de Janeiro) – têm ou tiveram relação com o banqueiro Daniel Dantas, principal alvo da Operação Satiagraha e suspeito de corrupção e lavagem de dinheiro. A ligação entre a Sanepar e Dantas teve início em junho de 1998, quando o então governador Jaime Lerner vendeu 39,7% das ações da companhia para a empresa Dominó Holding. Na composição do grupo privado estavam o grupo francês Vivendi (atual Sanedo), a construtora Andrade Gutierrez, a Copel Participações e Opportunity Daleth, que tinha o grupo de Dantas como um dos principais acionistas.

Disputa
Atualmente, a Sanepar não tem mais relação com empresas ou pessoas investigadas pela Operação Satiagraha.

Junho de 1998 – A Dominó Holding, formado por várias empresas, entre elas o Opportunity Daleth, compra 39,7% das ações da Sanepar.

Fevereiro de 2003 – O governador Roberto Requião decreta nulo o acordo de acionistas que havia sido assinado pela Dominó e o governo anterior. Começa um embate judicial entre as partes.

Junho de 2005 – Os acionistas da Daleth destituem dos cargos as pessoas ligadas ao banqueiro Daniel Dantas.

Novembro de 2007 – A Justiça Estadual anula o pacto de acionistas, o que seria confirmado pelo STJ em março de 2008. Governo estadual tenta elevar sua participação na Sanepar.

Julho de 2008 – PF deflagra Operação Satiagraha.

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Os vínculos de Dantas com a Sanepar começaram a ser cortados em junho de 2005, quando os outros sócios da Daleth, entre eles o Citigroup, tiraram o Opportunity do nome da empresa e destituíram seis membros da administração que tinham vínculo com o banqueiro. Uma das pessoas que perdeu a cadeira no Conselho de Administração da Daleth foi Verônica, irmã de Dantas e também detida na Operação Satiagraha. Mas, outro dos presos na semana passada, Rodrigo Behring Andrade, teve uma relação bem mais duradoura e próxima da Sanepar. Ele fazia parte do Conselho de Administração da Sanepar desde 1998, e saiu apenas em abril do ano passado, quando renunciou. Ele era um dos três conselheiros indicados pela Dominó Holding.

“Tão logo eu tenha conhecimento da íntegra do relatório da Polícia Federa, vou determinar uma investigação exaustiva dos fatos”, afirmou ontem o presidente do conselho de administração da companhia. Xavier disse que desconhece atos de Andrade que possam ter causado prejuízo à Sanepar. “Nesse governo (que teve início em 2003) sempre agimos para o interesse do estado prevalecer, mas não posso dizer nada em relação à gestão anterior.” O governador Roberto Requião (PMDB), desde que assumiu, tenta suspender um pacto de acionistas que dava aos sócios privados da Sanepar o poder de nomear diretorias estratégicas. A Justiça cancelou o pacto, mas a decisão ainda não é definitiva.

A Sanepar informou, via assessoria de imprensa, que não vê possibilidade de ser responsabilizada ou de ter sido lesada pelo envio de recursos para um fundo offshore. Segundo a assessoria, a Daleth nunca participou da gestão dos recursos da companhia, mas apenas recebe lucros e dividendos, assim como os demais acionistas. A destinação do dinheiro, uma vez nas mãos dos acionistas, não é responsabilidade da Sanepar, informa a assessoria. De acordo com o Banco Central, nenhuma empresa ou pessoa residente ou domiciliado no país poderia investir no Opportunity Fund.

A reportagem tentou contato com a Daleth, mas não houve retorno. O diretor e porta-voz da Dominó Holding, Renato Faria, também foi procurado, mas a secretária dele informou que ele está de férias no exterior e incomunicável.