Senadores querem o afastamento de José Sarney

Brasília (AE) - “Tem de sair”. A frase, curta e peremptória, fez parte do discurso duro em que o senador Pedro Simon (PMDB-RS) reiterou ontem o pedido de afastamento do senador José Sarney (PMDB-AP) da presidência da Casa. Simon foi seguido por senadores dos principais partidos políticos, que se revezaram na tribuna com o mesmo pedido. Nenhuma liderança da cúpula do PMDB compareceu ontem ao plenário do Senado para defender Sarney - o presidente não foi ao Congresso.

A pressão para que Sarney deixe a presidência do Senado aumentou depois da revelação de que José Adriano Cordeiro Sarney, neto do senador, tem uma empresa (Sacris Consultoria, Serviços e Participações Ltda) que faz intermediação de crédito consignado no Senado. Os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO), Eduardo Suplicy (PT-SP), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Arthur Virgílio (PSDB-AM) aproximam-se de Simon na ideia de que Sarney não tem condições políticas para mandar investigar problemas que envolvem parentes ou aliados políticos. “Não dá, não dá, não dT, pregou Simon, referindo-se à necessidade de sair do comando da Casa.

O mordomo da ex-senadora Roseana Sarney, que ganha pelo menos R$ 12 mil do Senado, o neto e o crédito consignado, e Agaciel Maia, ex-diretor-geral que está por trás dos atos secretos e de boa parte dos desmandos administrativos, como o pagamento de hora extra no recesso da Casa, são considerados problemas que rondam a presidência de Sarney nas três presidências, 1995, 2003 e 2009.

“O presidente tem de se afastar da presidência do Senado. Ele deve se afastar para o bem dele e de sua família. A sua saída representa um ato de grandeza”, defendeu o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que foi ministro da Agricultura no governo de José Sarney, na década de 80. “É bom que ele (Sarney) saia da presidência do Senado antes que sua situação fique insustentável”, avisou.

“Se eu estivesse no lugar do presidente Sarney seguiria a recomendação do senador Simon e me afastaria da presidência para dar todas as condições para esclarecer os episódios”, disse Suplicy. Ele propôs a eleição imediata de um peemedebista para substituir Sarney. “Seria um presidente consensual nesta hora grave de afastamento do presidente Sarney”, argumentou o petista “A ideia da licença de Sarney é uma sugestão e não uma pressão”, observou Cristovam Buarque, ao lembrar que o próprio presidente do Senado reconheceu, no início desta semana, que tem um estilo mais lento para promover mudanças.

Demóstenes Torres avaliou que a revelação dos negócios do neto de Sarney cria uma “situação altamente duvidosa” para a Casa. “Não podemos desconhecer esse caso”, disse. Ele cobrou o afastamento de Sarney do comando das investigações para apurar o envolvimento do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia e do ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi na elaboração de atos secretos.

PF pode abrir para investigar neto de Sarney

Brasília (AE) - A Polícia Federal vai buscar indícios de tráfico de influência e corrupção nas operações, no Senado, da empresa do neto do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). A empresa Sarcris Consultoria, Serviços e Participações Ltda, registrada em nome de José Adriano Cordeiro Sarney, 29 anos, faz intermediação de empréstimo consignado a servidores do Senado desde 2007.

O surgimento da empresa Sarcris despertou atenção dos investigadores. O negócio dos créditos consignados no Senado já estava sob a lupa da PF desde a revelação de que grandes bancos pagaram cifras milionárias a empresas ligadas a familiares do ex-diretor de Recursos Humanos da instituição, João Carlos Zoghbi. A polícia suspeita que empresas de intermediação de crédito, como as de José Adriano Sarney e dos parentes de Zoghbi, dividiam os espaços do ramo dentro do Senado.

Sarney atribui denúncia a ato de campanha

Brasília (AE) - Em dia de mais um escândalo envolvendo sua família, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), passou o dia recluso. No final da tarde, em um carro particular, foi a uma clínica de olhos na Asa Sul, onde permaneceu por cerca de uma hora. Ao sair, indagado sobre a crise no Senado, disse apenas: “Não vou falar nada”. Pela manhã, o senador divulgou uma nota sobre a revelação de que seu neto, José Adriano Sarney, é sócio de uma empresa, a Sarcris Consultoria, Serviços e Participações Ltda, e que intermedeia empréstimos consignados no Senado.

O texto, entregue por um assessor, foi curto: atribuiu as notícias a uma “campanha midiática” para lhe atingir por conta de suas posições políticas “de apoio ao presidente Lula e ao seu governo”.

José Adriano, através do gabinete de seu pai, o deputado Zequinha Sarney Filho (PV-MA), também divulgou uma nota chamando de “insinuações descabidas” a reportagem do jornal ‘O Estado de S.Paulo’ e negando que tenha sido beneficiado na intermediação de empréstimos consignados no Senado por ser neto de Sarney. “Nunca tive qualquer favorecimento, sou profissional qualificado, cuidando da minha vida”, afirma o texto.