Servidor admite tolerar corrupção

Pesquisa da UNB mostra que um em cada cinco funcionários públicos diz já ter descumprido a lei

Brasília – Um em cada cinco funcionários públicos (22,5%) admite que já descumpriu a lei. Uma proporção semelhante (18,1%) confessa que já cobrou propina para atender a uma reivindicação legítima do cidadão. Apenas 51,3% se consideram éticos e 11,9% vêm a profissão que exercem “com desprezo”. Os resultados fazem parte de pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UnB), a pedido da Comissão de Ética Pública, da Presidência da República, sobre a conduta da sociedade civil em geral e do servidor em particular.

Para o coordenador da pesquisa, professor Ricardo Caldas, da faculdade de Ciência Política, a conclusão é desanimadora: os servidores, embora em menor grau, refletem o mau comportamento da sociedade, em boa parte tolerante com a corrupção, adepta do “jeitinho brasileiro” e pouco preocupada com a ética e com o rigor nos gastos públicos.

O levantamento sobre padrão ético mostra também a má imagem que o servidor faz de si próprio. Mais de um quarto dos entrevistados (26,7%) diz que a categoria não está voltada para o interesse público e 55,7% consideram os funcionários públicos “amadores” ou “semiprofissionais”.

Outro dado destacado por Ricardo Caldas, que defende o fim dos cargos comissionados (preenchidos sem concurso público), é o de que 36,8% dos entrevistados chegaram ao funcionalismo por indicação de amigos, de parentes ou de contatos políticos. Menos da metade (47%) acredita que os servidores são qualificados para o trabalho que exercem. Apenas 51,3% dos servidores se considera ético.

SONEGAÇÃO E NEPOTISMO
A pesquisa feita com a sociedade civil revela o alto grau de descumprimento das leis e a condescendência com vícios como o nepotismo e o uso de dinheiro público em benefício próprio. Nada menos que 78,4% dos entrevistados – cidadãos com idade a partir de 16 anos, com atividades variadas – disseram já terem deixado de cumprir a lei em algum momento.

O curioso é que 59,4% se consideram éticos, destaca o professor Ricardo Caldas, como se cumprimento de leis e ética não estivessem diretamente relacionados. Mais da metade (50,3%) diz que, se fosse servidor ou político, contrataria um parente para cargo público e mais de um terço (36,3%) confessou que não declara corretamente os ganhos à Receita Federal.

Entre os servidores públicos, as proporções são menores, mas também apontam boa dose de falta de ética na gestão pública: 14,4% disseram que não declaram corretamente os rendimentos à Receita e 35,2% não responderam à pergunta. Na questão sobre nepotismo, 32,1% dos funcionários públicos disseram que contratariam parentes, se pudessem. (Agência Estado)