Trocas no Senado não afastam a crise

Substitutos dos diretores exonerados mostram que Sarney mantém controle sobre a Direção Geral

Pressionado por parlamentares que exigem seu afastamento, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA), exonerou o diretor-geral Alexandre Gazineo. Ele caiu em meio ao escândalo dos atos secretos - revelado há 13 dias pelo Estado e JT - junto com o diretor de Recursos Humanos, Ralph Campos. Mas as indicações do consultor do Senado Haroldo Tajra, para substituir Gazineo, e de Dóris Peixoto para o lugar de Ralph, não amenizaram a crise.

Líderes da oposição e base governista não viram ato de transparência, mas só “mudança” que permite a Sarney manter controle político sobre a Direção-Geral. Anteontem, ao rebater cobranças do líder tucano, Arthur Virgílio, Sarney disse que foi eleito para “presidir a Casa”, e não para “cuidar da despensa ou limpar lixeiras” do Senado.

As ligações dos indicados reforçam críticas. Ambos foram escolhidos pelo primeiro secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), para “cumprir missão por 90 dias”. O novo diretor-geral está na primeira secretaria desde 2001. Dóris, ligada ao clã Sarney, foi chefe de gabinete da ex-senadora Roseana Sarney, atual governadora do Maranhão.

O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e Sarney deixaram claro que a escolha foi de Heráclito. A primeira secretaria - conhecida como “reduto” do DEM - está envolvida em denúncias de irregularidade e corrupção porque é por onde passam contratos de serviços, empresas e pessoal. “Assumo responsabilidade exclusiva sobre as escolhas”, anunciou Heráclito, que voltou ontem ao trabalho, após cirurgia de redução do estômago, cumprindo roteiro combinado.

Em vez de atender a apelos de senadores e demitir Agaciel Maia, que foi diretor geral de 1995 até março passado, e o antecessor de Ralph nos Recursos Humanos, João Carlos Zoghbi, Sarney anunciou que pedirá que ambos se afastem do Senado informalmente.

Queda anunciada?

Diante da medida paliativa, Pedro Simon (PMDB-RS) pediu que Sarney se licencie e deixe a presidência da Casa. Cristovam Buarque (PDT-DF) emendou: “Não é mais caso de licença, mas de renúncia”. E Virgílio reiterou: “Ou rompe com essa gente (Agaciel e Zogbhi) ou cai com essa gente”.