União lança cartilha contra a corrupção

A Comissão de Ética Pública da Presidência vai discutir novas formas de conscientizar os brasileiros sobre a importância de denunciar o descumprimento das leis. O tema surgiu na pauta depois que uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) mostrou que mais de 22% dos servidores públicos e 78% de integrantes da sociedade civil admitem que já deixaram de seguir alguma regra legal.

"Isso aponta para a necessidade de se dar um direcionamento para a pedagogia da ética no serviço público e de mostrar às pessoas a necessidade de denunciar irregularidades. A sociedade é o melhor dos fiscais", defende o conselheiro Roberto Caldas. Para ele, uma das opções de levar o debate para a sociedade é com a divulgação de cartilhas em escolas e órgãos públicos. "Vamos discutir na comissão todas as possibilidades e agregar idéias."

Segundo Caldas, o resultado da pesquisa surpreendeu os integrantes da comissão porque foi realizada diretamente com os servidores, que admitiram condutas irregulares. Exemplo disso é o percentual de 18,1% de funcionários de órgãos públicos que assumem já terem cobrado propina. "Achávamos que o resultado seria mais positivo, no sentido de uma cobrança ética. Quando você coloca a questão para que o próprio indivíduo analise sua conduta e nos deparamos com esse resultado, não há como não se surpreender", opina Caldas.

A pesquisa da UnB - que foi encomendada pela comissão da Presidência e deve ser publicada até o fim do ano - mostrou que apenas 51% dos dois mil entrevistados que compõem o funcionalismo público se consideram éticos e apenas 23,5% tiveram algum receio de sofrerem punições ao descumprirem leis. Apesar da admitida desobediência às regras legais, apenas 10% dos servidores afirmaram que não concordam com o texto das normas. Segundo o levantamento, 7% dos entrevistados disseram achar as leis confusas e 8% afirmaram não acreditar no seu cumprimento. "São dados que preocupam muito, porque esses funcionários prestam serviços diretamente para a população", avaliou o senador Tião Viana (PT-AC).

Na sociedade civil, os números foram ainda mais elevados. A pesquisa indicou que mais de 78% dos entrevistados admitem que já deixaram de seguir a lei em algum momento e quase metade (42%) não teve receio de sofrer qualquer punição. Quando a pergunta se referiu à forma como essas pessoas se auto-analisam, quase 60% afirmaram que se consideram éticas. Integrantes da sociedade também demonstraram que não estão preocupados com os casos de nepotismo. Não é para menos. Mais de 50% dos entrevistados afirmaram que contratariam parentes se ocupassem cargos de direção no serviço público ou se fossem políticos.