Unibanco automatiza luta contra lavagem de dinheiro
Valor Econômico | 24 de janeiro de 2008
João Luiz Rosa
24/01/2008
Julio Bittencourt/Valor
Cai Igel, diretor de compliance do Unibanco: "Como o sistema financeiro brasileiro é maduro, as fraudes também costumam ser muito elaboradas"
Nos filmes sobre o Velho Oeste, qualquer agência bancária que se preze costuma ostentar pelo menos um cartaz do tipo "Wanted", com a foto de um bandido procurado. No mundo real, porém, é bem mais difícil para os bancos descobrirem quem é ou não desejável como cliente - uma tarefa que ficou ainda mais complexa com o advento da internet e a migração dos serviços financeiros para os meios on-line.
No Unibanco - quinto maior grupo financeiro do país, segundo a revista "Valor Grandes Grupos" -, um programa de computador começa a ocupar papel semelhante ao do cartaz nos westerns. O software, que começou a ser testado este mês, tem um fim específico: detectar movimentações pouco usuais ou suspeitas para coibir as operações de lavagem de dinheiro, seja na web ou no mundo real.
"Como o sistema financeiro brasileiro é maduro, as fraudes também costumam ser muito elaboradas", diz Cai Alejandro Von Igel, diretor de compliance do Unibanco. "Milhões e milhões de transações são processadas todos os dias. É necessário adotar sistemas inteligentes que identifiquem atividades suspeitas e ajudem a rastreá-las", afirma o executivo, cuja responsabilidade é garantir que todas as atividades do banco são geridas dentro das normas estabelecidas.
O sistema escolhido baseia-se em uma tecnologia de rede neural criada por um Prêmio Nobel de Física: o americano Leon Cooper, que recebeu o título em 1972, por outras de suas descobertas nesse campo. A patente, hoje, pertence à ACI Worlwide, empresa de software e serviços de Nova York que está comandando o projeto no Unibanco.
Especializada em sistemas de segurança para transações eletrônicas, a ACI iniciou os testes neste mês. A fase de implantação vai começar em fevereiro. "A previsão é de que a primeira etapa seja concluída até o fim do semestre", afirma Hugo Costa, diretor comercial da ACI no Brasil. Nesta fase inicial estão incluídas as atividades bancárias propriamente ditas. Depois disso, a idéia é estender o sistema a outras atividades, como seguros, corretora etc.
Há alguns anos, quando ainda engatinhava, a tecnologia de redes neurais era alardeada como um sistema capaz de copiar o funcionamento do cérebro humano. Hoje, isso é visto como um exagero, mas o princípio do sistema é o de "aprender" a identificar padrões a partir de amostras de dados. O software da ACI estabelece um placar de 0 a 999, com base na renda do cliente e no seu histórico de transações. Toda vez que uma mudança de comportamento radical é registrada, esse placar sobe e dispara um alerta para o gerente daquela conta. Começa, então, um processo de investigação interna.
Um exemplo: vamos supor que um cliente com renda média de R$ 5 mil faz uma aplicação de R$ 50 mil. Uma vez soado o alarme, o banco poderá verificar se o investimento inesperado é apenas consequência de uma herança recebida, por exemplo, ou confirmar se o caso apresenta indícios de algum ato ilícito. "O software avalia se o patrimônio do cliente é compatível com suas movimentações", diz Igel.
Operações tipicamente identificadas como indícios de comportamento suspeito também alteram o placar do cliente, independentemente do valor envolvido. "É o caso de uma grande soma de dinheiro que é repartida e depositada em quantias menores, em várias contas", exemplifica Costa, da ACI.
O software, no entanto, é apenas parte do processo. No Unibanco, 22 pessoas têm uma tarefa única entre os 34 mil funcionários da instituição. São 15 profissionais que atuam no banco e outros sete espalhados pelas demais empresas do grupo. Formado em grande parte por advogados especializados em legislação local e internacional, a equipe acompanha o que acontece em relação à lavagem de dinheiro no mundo para definir o perfil de cliente desejado e incluir no sistema restrições capazes de afastar os indesejados.
A tarefa é ajudada por várias fontes de dados. Periodicamente, os bancos recebem documentos de entidades nacionais e internacionais - um exemplo é o Office of Foreign Assets Control (OFAC), ligado ao governo americano - que trazem listas de criminosos, como traficantes de drogas e terroristas, com informações que ajudam a detectar suas tentativas de lavar dinheiro.
Na ACI, o acordo com o Unibanco tem sabor especial. O sistema de rede neural da empresa, batizado de ACI PRM, tem cinco módulos e é usado por 109 clientes, em 36 países. O módulo de lavagem de dinheiro começou a ser desenvolvido em 1999, depois da uma consulta de um banco brasileiro. "A espeficificação nasceu no Brasil", afirma Costa.
Monitoramento do Pacto
A plataforma de monitoramento do pacto acompanha e orienta o cumprimento do acordo assinado pelas organizações signatárias.