Vídeo entregue a juiz cita mais 4 vereadores

Reprodução: imagens cedidas pela Justiça

"'Os agentes foram especiais comigo'', diz ao telefone o então vereador Henrique Barros, ainda filiado ao PMDB, a um conhecido, a respeito dos policiais civis que, horas antes, o abordaram de posse dos R$ 9,8 mil que admitiu, na sequência, serem oriundos de propina. Minutos depois, Barros continua - dessa vez, falando diretamente aos promotores Leila Voltarelli, Cláudio Esteves e Leonir Batisti (atualmente procurador), em uma sala na sede do Ministério Público (MP): ''Quero colaborar, mas como eu posso? Como vou prová-los (sic)? Quero estar junto com vocês; para mim, isso vai ser uma honra''. Os comentários foram extraídos das gravações anexadas ao processo que corre na 3 Vara Criminal de Londrina e tornadas públicas, ontem, pelo juiz substituto Marcos José Vieira. O material - disposto em áudio e vídeo, em três DVDs - não apenas contraria frontalmente a versão apresentada pelo ex-vereador ao magistrado na audiência do último dia 7, quando alegou suposta coação dos promotores, como ainda elencou nomes de outros quatro parlamentares que teriam participado de esquema de corrupção no Legislativo londrinense pela aprovação ou agilização de projetos de lei.

Barros foi preso em flagrante no último dia 9 de janeiro, na Avenida Leste-Oeste, pouco depois de receber R$ 5 mil em dinheiro do empresário Alexandre Fontana Guimarães, de quem teria cobrado R$ 10 mil, ao todo, para alterar o Código de Posturas e expandir o horário de funcionamento do Mercado Guanabara. Junto a essa matéria, outras duas - uma doação de área ao empresário Maurício de Biagi e uma alteração de zoneamento ao empresário Carlos Messas - teriam rendido, juntas, um volume de aproximadamente R$ 40 mil em propina.

No depoimento ao delegado que oficializou a prisão em flagrante, Ernandes César Alves, Barros disse ser integrante de um esquema de cobrança liderado pelo então vereador Orlando Bonilha (PR), do qual participariam também Flávio Vedoato (PSC), Osvaldo Bergamin (PMDB) e Renato Araújo (PP). Em fevereiro, a defesa de Bonilha apresentou na Câmara um ofício manuscrito pelo ex-peemedebista no qual ele desmentia o teor dos depoimentos e se dizia coagido pelo MP. À exceção dele e de Bonilha, que abriram mão dos mandatos, os demais seguem afastados judicialmente dos cargos até que se encerre a instrução penal.

Se na audiência ao juízo da 3 Criminal, dia 7 passado, ele se disse ''apavorado'' perante os promotores, alegando coação para que apresentasse os nomes dos demais denunciados, nos DVDs surgiu um Barros visivelmente nervoso quando da abordagem dos policiais ligados ao Gaeco, mas razoavelmente tranquilo na conversa com os três promotores.

Monitorado desde antes de receber os R$ 5 mil de Guimarães, Barros foi seguido pelos policiais e abordado instantes depois. Por mais de uma ocasião, aludiu ao fato de ser ''o vereador Henrique Barros'' e disse que havia acabado de rapassar a um motoboy de sua confiança dinheiro da suposta venda de um Rolex seu efetuada a Guimarães. Na revista pessoal, ainda fez questão de alertar: ''Vocês têm que saber quem é do bem e quem é do mal, gente''. Um pouco antes, argumentara que ia para a reunião da Gás Natural, empresa de cuja conveniência ele seria o dono. Na revista do carro, contudo, um policial localiza os R$ 9,8 mil em espécie no encosto traseiro de um dos bancos.

Tanto na abordagem dos policiais - toda filmada - quanto na presença dos promotores, Barros destacou a pretensão de disputar a Prefeitura e se colocou à disposição para esclarecer a situação do flagrante. ''A gente sabe como as coisas estão funcionando na Câmara, esse não é um blefe nosso - está cabalmente demonstrado (nas investigações) que esse dinheiro era para pagar projetos de lei'', colocou a ele o promotor Cláudio Esteves, pelas filmagens. Por outro lado, o promotor ressalva: ''Você não tem nenhuma obrigação de falar; mas, se quiser, é a chance de colaborar conosco''. Em seguida, Barros afirma que quer ''ser parceiro'' dos promotores e admite já ter se sentido constrangido em ter tido, ele próprio, de ter efetuado cobranças para empresários de seu círculo de amizades. ''Porque lá é assim, chega para empresário e coloca que é 'por amor ou pela dor'.''

Indagado pelos promotores nas filmagens sobre quem participaria sempre do suposto esquema, elencou: ''Renato Araújo, Bonilha, Sidney de Souza, Jamil Janene, Vedoato e Gláudio (Lima). Osvaldo Bergamin eu coloquei?'', perguntou. Diante da negativa, foi assertivo: ''E Osvaldo Bergamin. Mas eu ia sempre no quadrante Gláudio, Renato, Bonilha e Vedoato, que eram da Comissão de Justiça - nessa brincadeira toda, era sempre uma briga para ver quem seria da comissão''.


Janaina Garcia
Reportagem Local